Por João Pedro Teixeira
A espetacularização de acontecimentos ainda é um caso recorrente das mídias como um todo. Casos de violência são comumente noticiados pelo simples teor do espetáculo e do “entretenimento” coletivo. O jornalismo como meio comunicacional tem o principal papel de criar o debate, fornecendo a problematização e os caminhos argumentativos para que esses assuntos entrem em voga da forma correta. Matérias que repercutem pequenas notas de casos policiais, ferem esse direito ao debate de assuntos que são mais profundos e complexos.
No portal aRede, três notas chamam atenção para essa situação. A primeira delas, veiculada no dia 01 de maio, sob o título “Adolescentes são detidos por violência doméstica” traz dois casos de adolescente que bateram na mãe e outro no padrasto. A nota nada mais traz do que, parece, a transcrição de um boletim de ocorrência nos moldes jornalísticos de pirâmide invertida. Nada acrescenta e nada debate. Desse modo, é possível perceber o destrato com o termo “violência doméstica” e naturalização da violência.
Outra matéria, veiculada no dia 2 de maio, sob o título “Mulher é morta a tiros durante o jantar na região”, traz simplesmente outro boletim de ocorrência e nada mais. Embora apresente no texto um “possível caso de feminícidio”, a única coisa que o texto faz é descrever o crime. Só temos uma fonte na matéria, sendo a Polícia Militar. Nada mais é ouvido e a violência retoma como algo que acontece todos os dias.
A última matéria foi publicada no dia 5 de maio, sob o título “Mulher é morta a facadas pelo ex-marido no litoral”. Mais uma transcrição de boletins, a nota não traz nenhuma informação que escape dos contos policiais encontrados em jornais. Quando o compromisso do jornalismo de pluralidade é de buscar informações completas que procurem elucidar um fato ao debate público, simples transcrições falham com esse dever, principalmente quando tratamos da violência conta a mulher e violência doméstica. É nitidamente falho essa atenção aos detalhes da apuração, quando ela se baseia em transcrições e não em uma reportagem.