Mais de 50% das mulheres brasileiras estão fora do mercado de trabalho formal

De acordo com pesquisa do IBGE, durante o segundo trimestre de 2020 o desemprego para as mulheres se acentuou em meio ao cenário da pandemia

Desemprego, dupla jornada e preocupação com a saúde dos filhos marcam o cotidiano das mulheres na pandemia do coronavírus. Monyque Ciunek, 26 anos, até o começo da pandemia do COVID-19, em março, trabalhava como garçonete em um hotel da cidade, quando foi demitida. Ela cria sozinha o filho de 4 anos e hoje mora de favor na casa da mãe. Para driblar a falta de emprego, Monyque depende do auxílio emergencial do governo e da venda de itens de artesanato que começou a confeccionar durante o período de isolamento social. “Não foi uma escolha minha sair do hotel onde eu trabalhava, porém se não fosse a escolha deles eu iria ter que pedir para sair”, relata.

Monyque faz parte das quase 50 mil mulheres brasileiras que estão fora do mercado de trabalho no segundo trimestre de 2020, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE. Segundo a pesquisa, hoje no Brasil, existem mais mulheres fora do mercado do que dentro da força de trabalho. No primeiro trimestre de 2020, 43408 mulheres estavam fora do mercado de trabalho, já no segundo trimestre do mesmo ano, o número saltou para 49541. 

A professora de Serviço Social da UEPG, Reidy Rolim, explica que as mulheres dedicam em média três vezes mais tempo que os homens ao trabalho de cuidado, seja da casa ou dos filhos. De acordo com a professora, as mulheres possuem dupla e até tripla jornada de trabalho. O problema se intensifica em famílias de mães que cuidam sozinhas dos filhos. “Quando se é mãe solo, em grande maioria das vezes, todas os trabalhos de cuidado e educação acabam ficando por conta da mesma, o que gera uma sobrecarga muito grande, tanto em relação ao acúmulo de trabalhos como também na busca por um emprego”, explica.

 

 

A dupla jornada estava presente na rotina da professora Valéria Jansen, 38 anos. Com 4 filhos, a professora teve que se afastar da escola em que trabalhava para auxiliar no ensino remoto das crianças. 

Valéria explica que a decisão de parar de trabalhar surgiu da necessidade de acompanhar seus filhos no ensino remoto, além da dificuldade de preparar e dar suas aulas, também de forma remota, pela necessidade de cuidar das crianças. “Meus filhos tinham aula e eu não podia acompanhar, não tem como uma criança de quatro anos ter autonomia suficiente para ficar na frente de um computador sozinha, fazendo as atividades”, relata. 

De acordo com a pesquisa do IBGE, o número de mulheres desempregadas aumentou 18% durante os dois primeiros trimestres de 2020, enquanto a taxa de homens que perderam seus empregos se manteve constante no mesmo período. 

 

 

A vendedora Letícia Georgi, no começo da pandemia, tirou 30 dias de férias e assim que voltou decidiu se afastar da empresa por medo da contaminação. “Não tem preço colocar a vida de quem a gente ama em risco”, afirma. “Saber que ele estava sozinho e eu tinha o risco de pegar e passar a doença me deixou muito nervosa”. 

“Eu sei que estou sem emprego agora, não sei se volto a trabalhar daqui a um ano ou dois. Mas estar em casa me traz uma tranquilidade muito grande, saber que posso estar com meu filho me tranquiliza”, explica a vendedora. Letícia decidiu abrir um sex shop para manter a renda da casa.

Além disso, a vendedora precisa conciliar o trabalho com o estudo, pois está no último ano do curso de Administração na Universidade Estadual de Ponta Grossa. “A gente já se acostumou a ter relativamente pouco, então entre ter pouco e ficar vivo do que pegar a doença e acabar perdendo alguém, não tem preço”, finaliza Letícia.

 

Sobre as discussões em torno da reabertura das escolas para as crianças, as três mães consultadas nesta reportagem têm a mesma decisão: não pretendem levar seus filhos à escola até que isso seja totalmente seguro. Monyque entende que o filho não ficaria o tempo inteiro de máscara, por ter apenas 4 anos e não entender o perigo da doença. Valéria diz que não se sente segura em mandar as crianças para a escola antes de existir uma vacina.

A falta de uma vacina também é a razão que faz Letícia preferir deixar o filho em casa caso as aulas retornem no modo presencial. “Eu entendo que muitas mães que estão trabalhando hoje, se as aulas voltarem seria melhor para elas. Eu hoje, se voltar, decidi que meu filho não vai”, expõe Letícia. “Ainda não tenho essa coragem de enviá-los à escola, não sem vacina”, afirma Valéria. 

Por Emanuelle Salatini

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta