“A situação mais difícil que enfrentamos é a nossa resistência, a luta pela nossa terra e pelos nossos direitos”. Esse é o relato do indígena da terra campina Katukina, na cidade de Cruzeiro do Sul no Acre, Panã Kamanawa. Após mais de um ano de pandemia do coronavírus no Brasil, a vulnerabilidade continua sendo uma das maiores preocupações enfrentada pelos indígenas, situação está intensificada pelo vírus.
Sendo assim, mesmo com a aprovação da Lei 14.021/20 sancionada pelo Governo Federal, que teoricamente garante proteção e auxílio aos povos indígenas em relação a Covid-19, a ausência de recursos para a sobrevivência é um dos principais problemas das comunidades. De acordo com o diretor executivo do Instituto Terra Verde, Leonardo Brandão,grande parte dos povos indígenas da Amazônia apostava na venda de artesanato e de produtos da floresta, no etnoturismo e na realização de atividades culturais e espirituais nas grandes cidades, como forma de geração de renda. “A pandemia atingiu diretamente o trabalho fora da aldeia, diminuindo drasticamente esse tipo de receita, impactando no agravamento da situação de pobreza de muitos desses povos.” revela.
Com o intuito de auxiliar os povos indígenas, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) distribuiu ao longo de 2020 cestas básicas e kits de higiene nas aldeias, entretanto a ação não é classificada como permanente. “No começo da pandemia, nós tivemos um apoio da FUNAI com a cesta básica, só isso, e no momento não tem ONG nem governo ajudando o povo, mas estamos aqui fazendo o nosso trabalho caçando, pescando e roçando para sustentar a nossa família.” explica Panã Kamanawa.
Não apenas a escassez de alimentos, a falta de trabalho e a vulnerabilidade das terras assolam as aldeias do país, o alto índice de vidas perdidas entre os povos indígenas é mais um obstáculo no cotidiano das comunidades. Conforme os dados do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena publicados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), 53.329 indígenas estão contaminados pelo coronavírus e 1059 faleceram em decorrência da doença. Assim como o Instituto Terra Verde, a Apib também é uma instituição veiculada e preocupada com a situação atual dos indígenas. Entretanto, os dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), vinculada ao Governo Federal, são o retrato da subnotificação por parte do poder público e da exclusão de indígenas residentes de área urbana e de áreas não demarcadas, pois de acordo com os boletins epidemiológicos, o número de mortes indígenas é 38% menor se comparado aos dados da Apib, ou seja, 660 óbitos.
Além da falta de transparência, o principal vetor de transmissão da Covid-19 no território indígena da região norte foi a SESAI. O levantamento da Apib expõe que de sete estados do Norte, três localidades foram contaminadas após contato com profissionais da Secretaria, sendo elas, Alto Rio Solimões (AM), Vale do Javari (AM) e Alto Rio Purus (AC).
As mortes pela Covid-19, a negligência por parte do governo e a escassez de recursos são adicionadas às constantes invasões às terras indígenas, mostrando a dimensão das adversidades cotidianas nas aldeias. Para Panã Kamanawa, o não cumprimento da demarcação territorial afeta a sobrevivência dos povos. “Antigamente tinha caça aqui na aldeia e animais, então a gente sobrevivia, mas como temos muitos vizinhos, eles invadem e tiram o que tem dentro da nossa terra.”, declara.
Acesse o site Amazônia Real
Imagem: Reprodução Diário Causa Operária