Neste ano completam 133 anos a Lei Áurea no Brasil, e a romantização das mãos brancas que deram “liberdade” para negros e negras. Deve-se ressaltar e marcar bem as aspas na palavra liberdade, pois se deveria chamar pseudo liberdade. Ainda sentimos na pele, na essência e na alma os açoites de uma sociedade escravocrata, e assim, a figura do Capataz evoluiu na figura do Estado.
Ainda temos que superar a Escravidão, e parar de ver as favelas como uma Nova Senzala, pois não é somente o lugar onde negros e negras dormem após servirem em subempregos para uma elite branca, mas um lugar rico de cultura, talentos e vivências. Devemos superar também a figura do Estado como Capataz, pois o Estado deveria ser democrático e de diretos.
Porém, o Estado, principalmente no papel da policia, assassina negros e negras principalmente nas favelas e comunidades pobres, e assim vemos casos como da Ágata de 8 anos do Complexo do Alemão/RJ, como o caso de João Pedro Pinto, 14 anos, que foi alvejado dentro de casa, dos 80 tiros contra o carro de Evaldo, 51 anos, ceifando a sua vida e arriscando as vidas de familiares que acompanhavam e os 28 mortos da chacina do Jacarezinho/RJ provocada pela policia e parabenizada por aquele que ocupa a cadeira do executivo nacional. Assim, 86% de mortos em operações policiais são negros como apontou o estudo da Rede de Observatórios de Segurança Pública em 2019, no Rio de Janeiro.
Não bastava herdarmos da escravidão um vocabulário racista, como por exemplo, as palavras criado mudo (criados que ficavam calados ao lado da cama do senhor), ou a referenciação para negras, a palavra mulata (que vem de mula, um mamífero híbrido que surge do cruzamento do asno macho com a égua), tivemos como herança também o ódio e as atitudes descomedidas contra a população negra, como a sexualização, a ridicularização e o cravejamento de balas nos corpos negros. Então, qual motivo por comemorarem a data 13 de Maio, se a toda raiva do período escravocrata ainda existe?
Além disso, vivemos num tipo de apartheid, já que ainda precisamos de cotas para igualar o acesso de negros a brancos na universidade e reparar uma divida histórica que somente aumenta, ainda temos negros e negras no subemprego, presenciamos uma população carcerária negra muito grande, vivemos o desrespeito ao corpo da mulher negra e assistimos o genocídio da população afro.
Vivemos em um Brasil onde ainda impera as visões de Nina Rodrigues que tinha uma visão retrógrada e afirmava que o fim da escravidão não era a solução aos problemas econômicos da sociedade, a descrição sexualizada das negras feita por Gilberto Freyre em sua obra Casa Grande e Senzala, e a visão de senhores brancos escravistas que objetificava a população negra.
Entende-se que a data 13 de maio, através da lei áurea, libertou 700 mil escravos em 1888. Mas, não garantiu acolhimento e menos ainda ressarcimento do que essa população sofreu em nosso país. Então, pode-se dizer que a data signifique liberdade? Ou somente seria a população branca que para se livrar e apagar a culpa do período truculento escravagista criou uma lei de “liberdade” com a ideia utópica de igualdade racial? Ficam as perguntas para uma reflexão.