O dia 23 de setembro é marcado como o Dia da Visibilidade Bissexual. A data foi escolhida por um grupo de ativistas norte-americanos em 1999, com o intuito de celebrar a comunidade. O dia homenageia o aniversário da morte do psicanalista Sigmund Freud, o primeiro a tratar da questão da bissexualidade.
Ao tratarmos de sexualidade e identidade devemos considerar as construções sociais, culturais e políticas da mesma. Danieli Klidzio, licenciada e mestranda em Ciências Sociais na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e administradora (juntamente com a pesquisadora Helena Monaco) do perfil @bi_blioteca no Instagram, afirma que compreende a bissexualidade como possibilidade de atração sexual e/ou afetiva sem distinção de gênero ou por todos eles. Daniela comenta a respeito da importância de entender que não se trata apenas da atração por homens e mulheres, pois essa seria uma definição binária e distorcida que nunca foi a colocada pelo movimento social bissexual. “A bissexualidade é também uma identidade social na medida em que é reivindicada por sujeitos sociais como forma de se construir comunidades e políticas próprias. ”, diz ela.
A bifobia é um termo utilizado para atitudes ou sentimentos preconceituosos e discriminatórios contra a bissexualidade. A partir disso, Danieli salienta que a bifobia começa pela invisibilização e apagamento, seja sobre as lutas históricas de bissexuais junto ao movimento LGBTQIAP+ e das pautas políticas da bissexualidade ou sobre a subjetividade de pessoas bissexuais. “O apagamento além de ser o ponto onde a bifobia começa, é também onde ela termina. Isso se dá porque existe um ciclo vicioso: com o apagamento da bissexualidade, é reforçada a percepção de que não existem bissexuais e a bifobia acaba sendo naturalizada e percebida como nada além de uma falácia. ”, enfatiza. Ela acrescenta sobre a percepção comum de pessoas com um olhar de desconfiança com bissexuais, entendendo-os como indecisos. O fato conclui que o preconceito ocorre porque a bissexualidade não está dentro do parâmetro de desejo que foi construído como ideal, a atração apenas por um gênero específico/definido. Fazendo com que bissexuais sejam lidos socialmente como pessoas em fase de experimentação ou que necessitem de amadurecimento da sua sexualidade.
Para Danieli Klidzio, existe uma grande variável para pensarmos o que pode afetar a saúde mental de bissexuais. Mas, um dos fatores principais é o isolamento, a falta de amparo e a compreensão a respeito do mais primordial que é a existência da bissexualidade. Duvidando-se da existência dela. “É extremamente adoecedor que pessoas bissexuais sejam questionadas constantemente e tenham sua sexualidade policiada por conta de estereótipos, de violências e de micro violências que vêm, inclusive, de dentro de ambientes considerados de acolhimento para pessoas LGBTQIAP+ ”, expõe. Danieli demonstra o quanto a saúde mental de pessoas bissexuais pode ser afetada por questões relacionadas ao apagamento dentro da própria comunidade. “Dói muito mais quando você não é reconhecida e precisa impor-se para dizer “eu existo, sim! ” Em ambientes que se colocam como acolhedores e da comunidade. ”, acentua.
Segundo ela, a preocupação com o adoecimento psicossocial e o reconhecimento de pessoas bissexuais não pode ser resumido quando bissexuais estão em um relacionamento com alguém do mesmo gênero. Porque bissexuais não existem como uma parte heterossexual e uma parte homossexual. A bissexualidade é em si uma identidade específica com demandas específicas. Por isso a bifobia precisa ser primeiramente reconhecida, para que tenhamos políticas públicas que se preocupem com as demandas da bissexualidade.
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