Assédio em bares, restaurantes e casas noturnas é relato comum entre as jovens de PG

“Eu fiquei travada por alguns minutos em choque pensando que a culpa era minha. Acabou com a minha noite, com a minha semana. ”, relata a estudante.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, em 2021 a cada sete horas foi registrado um boletim denunciando crimes como importunação sexual e divulgação de imagens e vídeos com conteúdo sexual sem consentimento. Dado que é subestimado, uma vez que, são raros os casos de denúncia devido ao medo da descrença e repreensão.

Os casos de assédio costumam ser mais frequentes em casas noturnas, situação que não é diferente em Ponta Grossa. A partir disso, a lei Nº 13.748/2020 da cidade obriga os bares, as casas de shows, os restaurantes e os estabelecimentos similares a adotar medidas de segurança visando a proteção das mulheres em suas dependências. Isso consiste na oferta, pelo estabelecimento, de acompanhamento da mulher até o veículo, inclusive aqueles de aplicativos de transporte urbano, ou na comunicação da situação de risco à polícia.

Uma estudante de Ponta Grossa, a qual optamos por proteger a identidade e integridade pessoal, relata o assédio que sofreu em uma casa noturna da cidade em dezembro de 2021. “Foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu comigo, eu estava de boa e um cara me beijou a força, começou a tentar tirar minha saia na frente de todo mundo. Daí eu consegui empurrar ele, depois que aconteceu eu fiquei travada por alguns minutos em choque pensando que a culpa era minha por ter dançado no palco. Acabou com a minha noite, com a minha semana”, conta a jovem. 

Para entender a lei Nº 13.748, suas deficiências e como melhorá-la, conversamos com Guedes Henrique, proprietário da casa noturna Cavan, localizada no centro de Ponta Grossa. A casa tem diversas medidas que focam

na proteção das mulheres presentes no estabelecimento.  Confira a entrevista na íntegra abaixo:

Como e onde mulheres que sofreram assédio podem procurar ajuda dentro do estabelecimento?

Todos os funcionários da casa estão orientados a ouvir a vítima e chamar um responsável. Colocamos placas no banheiro feminino indicando o que fazer quando estiver se sentindo ameaçada ou constrangida, explicando também como funciona o drink FRIDA, que nada mais é que um “drink de emergência” para socorro em casos de assédio. Na placa, as mulheres são orientadas a chegarem no bar e pedirem por esse drink, para que, automaticamente, o pessoal entenda o recado e chame um responsável para tomar providências. 

Quais são as medidas tomadas após o pedido de ajuda?

O pessoal é orientado primeiramente a afastar o agressor de perto da vítima, e conversar com a mesma para entender a situação. Após isso, nós buscamos a melhor maneira de resolver o caso, o que pode ocorrer com a saída do assediador. Também, nos disponibilizamos a chamar a polícia e prestar esse suporte caso a mulher deseje prestar queixa. 

As medidas de apoio/proteção são divulgadas de que modo no ambiente do estabelecimento?

Nós fazemos campanhas pelas nossas redes sociais e espalhamos placas por toda a casa (inclusive no banheiro masculino). Colocamos a placa referente ao drink Frida no banheiro feminino, e também, referente ao drink, placas nos ambientes exclusivos para funcionários, para que sempre estejam cientes desse código. 

Mesmo que seja praticamente impossível controlar e garantir que situações que coloquem mulheres em risco não aconteçam, existem medidas da equipe do local para evitar casos de assédio e fazer com que mulheres se sintam protegidas?

Na minha opinião, o melhor caminho é a conscientização. Quanto mais repreendermos e colocarmos esses atos como desprezíveis dentro da casa, mais afastadas teremos as pessoas que tomam esse tipo de atitude. Tivemos uma época na Cavan em que estávamos tendo bastante relatos de assédios, que foi quando intensificamos campanhas e até lançamos a polêmica coleção de copos dizendo NÃO AO ASSÉDIO. Ao meu ver, como não temos como saber quem faz isso, precisamos colocar isso em pauta e o copo era algo que chegaria às mãos de todos… A ideia foi bombardeada por críticas, mas mesmo assim fizemos e todas essas campanhas deram resultado. 

Mas, é claro, não paramos por aí. Pensando em um maior zelo para com nossos frequentadores, coloquei mais seguranças na casa e câmeras. Intensificamos também as orientações com nossos colaboradores, para ficarem ainda mais atentos com essa questão. 

Quanto você considera que essas medidas têm sido efetivas?

Então, como disse, tivemos uma onda de relatos e depois que tomamos todas essas atitudes as reclamações cessaram. Creio que não resolvemos 100% o problema, porque realmente não temos como prever o comportamento de cada um que entra. Mas, ainda assim, as medidas tiveram bastante resultado.

 

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