Pesquisa voltada a pessoas com deficiência revela altos níveis de exclusão social

Por Camila Souza

 

Divulgados no segundo semestre deste ano, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostram altos índices de exclusão social que as pessoas com deficiência enfrentam e as maiores dificuldades encontradas durante a vida. Para a pesquisa inédita, que é uma iniciativa da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Ministério dos Direitos Humanos, em uma parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), foram ouvidas pessoas com deficiência no período de julho, agosto e setembro de 2022.

Conforme apontou a pesquisa, quando se trata de analfabetismo, as pessoas com deficiência (19,5%) são as que mais sofrem em relação às pessoas sem deficiência (4,1%.). Em relação à conclusão do Ensino Médio, apenas 25,6% das pessoas com deficiência concluíram os estudos, já entre as pessoas sem deficiência, o índice chegou a 57,3%. Em relação às maiores dificuldades enfrentadas no cotidiano, a pesquisa mostra que pessoas com deficiência encontram maiores problemas para andar ou subir degraus (3,4%).

Em contrapartida, se já é difícil se locomover, quando se trata de acessibilidade viária para pessoas com deficiência, as dificuldades são ainda maiores, conforme relata Marlon Cesar Nadal. O morador de Ponta Grossa de 42 anos perdeu completamente a visão há quatro anos, após ser diagnosticado com diabetes. “A acessibilidade em Ponta Grossa é muito ruim. Tanto em calçadas, como muito mato e buracos. Nem sempre estamos acompanhados de alguém, então sempre caímos em buracos, batemos a cara em lixeiras, postes e em carros estacionados na calçada”, revela Marlon.

Ciente das dificuldades e movido pelo desejo de colaborar com a causa, em outubro deste ano Marlon se candidatou e conseguiu assumir a presidência do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência, o que para ele foi uma grande conquista. “A gente tem que quebrar essa corrente de que o deficiente não pode fazer nada. Como presidente, tenho que trabalhar para ajudar essa classe que é escondida, deixada de lado. Eu, como presidente e deficiente, consigo mostrar as dificuldades que temos na cidade”, afirma.

 

Políticas públicas para PCDs em Ponta Grossa

 

Através da parceria com a Fundação de Assistência Social do município, sete entidades em Ponta Grossa realizam atendimentos direcionados a 560 pessoas com deficiência. Chamada de ‘Centro dia’, a modalidade assegura a permanência dessas pessoas durante todo o dia na instituição e não fecha durante o período de férias. O objetivo principal da modalidade é justamente a interação social e a oferta de serviços, garantindo uma rotina diária para essas pessoas, prevenindo o isolamento social. 

A diretora do Departamento de Proteção Social Especial, Thais do Prado Dias Verillo, conta que a cidade está preparada para atender essas pessoas. “Hoje o município dispõe de 52 vagas para acolhimento de pessoas com deficiência, seja intelectual ou física. E atualmente não temos fila de espera para esse público”, conta a diretora. 

Nessa modalidade de serviço são oferecidas três refeições diárias, além de uma equipe de especialistas como assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional e educador físico. Os atendimentos são realizados de maneira contínua, adaptando-se à rotina da família da pessoa com deficiência e não possui um prazo máximo de permanência. 

 

APADEVI

 

A Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual (APADEVI) é uma das instituições de Ponta Grossa que realiza atendimentos direcionados a pessoas com deficiência há 37 anos. Marlon frequenta a APADEVI e considera que a instituição faz diferença na vida das pessoas. “Lá a gente percebe que é capaz de fazer mais do que a gente imagina. Hoje eu faço aula de música e nunca peguei um violão enquanto enxergava, lá eu aprendi a tocar”, conta. 

A instituição é uma organização não governamental e sem fins lucrativos. Atualmente atende aproximadamente 191 pessoas com deficiência visual total ou baixa visão. Não possui restrições de atendimento por idade e oferece diversos programas aos pacientes.

 

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