Caso Carlos Teixeira

Há poucos dias o caso do adolescente que perdeu a vida em decorrência de
agressões por bullying veio à tona e torna-se impossível que o caso não choque a todos por
tamanha tragédia. Adolescentes envolvidos em um crime, onde um deles teve sua vida
interrompida. É importante levar em conta que a prática do bullying fala diretamente sobre o exercício de poder, prática que é incentivada em muitos âmbitos da sociedade desde os
primórdios por adulto, logo, é reproduzida por crianças e adolescentes.
Vivemos em uma sociedade que normaliza esse jogo, localizado em persuasão,
maltrato, humilhação e agressão no âmbito profissional, estudantil e até mesmo no âmbito
familiar, sempre direcionando para figuras que apresentam maior fragilidade, ou ainda,
direcionado aquilo que foge à regra.
Quando pensamos sobre o bullying propriamente dito, ouvimos pessoas justificando:
“Sempre houve, na minha época não era bullying! Era normal apelidar e provocar!”. Não é
estranho que um trato degradante a outro ser humano seja normalizado e até mesmo
defendido por algumas pessoas como algo saudável e que faz parte da socialização?
A verdade é: Todos queremos uma identidade própria, mas ninguém quer ser vítima
de bullying. Na era atual ganhamos filtros digitais, cirurgias, entre outras intervenções para
nos adequarmos ao “normal” pois fugir a regra e assumir o lugar próprio de quem se é,
distanciado da massa, pode ser libertador mas escancara o risco de ataque.
É importante a delimitação: É normal a vivência de qualquer condição a qual eu
sobrevivi ou estamos falando sobre vivências, pessoas, condições, intenções e
comportamentos diferentes? Ter sido uma vítima sobrevivente não deve nos fazer apto para validar ou ainda, desvalidar o sofrimento do outro. O bullying, quando faz parte do
desenvolvimento da personalidade de alguém, imprime marcas irreparáveis no psiquismo.
Em psicanálise utilizamos de algumas teorias para compreensão do ser e das
relação. Sendo a prática de bullying vista como um sintoma, compreendemos-a como um
mecanismo de projeção. Para que eu possa ser perfeito e assegurar minha perfeição,
preciso jogar o imperfeito, feio, ruim e errado ao outro, só assim posso conviver com minhas diferenças e inseguranças, projetando-o aos outros para que possa fingir que não estão em mim.
Através dessa separação, exemplificando de forma simples como: “Você é feio e eu
sou bonito!” A criança ou adolescente inicia sua separação de quem é e o que deseja vir a
ser, além de demarcar seu espaço como de alguém mais valoroso. Havendo uma
orientação falha, essa separação pode se dar de forma violenta.
O caso do adolescente Carlinhos chama atenção para diversos pontos: Há uma
vítima fatal e outros adolescentes envolvidos, que são localizados como autores da
violência. Além deles, há testemunhas, incluindo adultos.

É importante conceitualizar ainda que vítima e autores são pessoas em condição de
desenvolvimento, sendo assim dependem de um olhar atento visando cuidado, orientação e
ainda a redução de fatores de risco. Quem insere a criança e o adolescente, a linguagem,
afetividade, socialização, instrui sobre como relacionar-se com outras pessoas e ainda os
orienta sobre certo e errado são os adultos.
Crianças e adolescentes necessitam de auxílio para lidar com seus impulsos, seus
sentimentos e comportamentos, sendo um perigo simplificar tal questão na criminalização
os “autores” e desconsiderar um contexto que favorece a prática da violência e muitas
vezes ainda, contextos de omissão por parte de adultos que realmente devem se
comprometer na instrução e acolhimento de crianças e adolescentes inseridos em contextos de bullying.

 

Amanda Chaves Orza – Psicóloga e psicanalista

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