O encerramento de atividades em 81 estabelecidos do EJA teve como justificativa a falta de alunos
Desde 2019 o número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem diminuído. É o que mostra o Censo Escolar da Educação Básica 2023 feito pelo Instituto Nacional de Ensinos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em parceria com todas as escolas públicas e privadas do país. De 2019 para 2023, o número de matrículas no Paraná diminuiu de 125.881 para 31.743, o que representa uma queda de 75% do número de estudantes.
O Sindicato dos Professores e Funcionários de Escolas do Paraná, APP-Sindicato, acusa a Secretaria de Educação (Seed) de tornar os estudos do EJA inflexíveis. Antes, os estudantes podiam escolher os dias e horários para fazer as disciplinas, que poderiam ser realizadas em períodos diferentes. Em 2020, o governo adaptou o sistema, que passou a ser semestral, com quatro disciplinas consecutivas e presença diária obrigatória. “O governo vai dizer que não tem demanda para a educação de jovens e adultos. No formato que está oferecendo, não tem mesmo, pois não foi pensada para o trabalhador e estudante da escola pública”, afirma a professora Maria Aparecida Zanetti, integrante do sindicato.
O professor do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paulo Rogério de Almeida, explica a gravidade do problema. “É preocupante, pois o EJA é uma forma da pessoa que não teve oportunidade de seguir o ensino regular ter uma formação”, afirma. Metade dos estudantes do EJA têm mais de 30 anos, então precisam conciliar estudos e trabalho, de acordo com o Censo. “Devemos dar mais incentivo para que haja mais cursos e mais vagas para aumentar a escolaridade das pessoas”, ressalta o professor.
O trabalhador Davi de Souza completou o ensino médio com 30 anos. “Sempre ia e desistia, fiquei assim por anos, mas terminei mesmo com 30 anos. Vi que o mercado de trabalho está mais exigente e fui em busca de terminar os estudos para conseguir um emprego com salário melhor”, relembra Davi sobre o porquê decidiu entrar no EJA. Ele conta que conseguiu fazer cursos de especialização e concursos públicos após finalizar os estudos, o que fez com que sua auto estima aumentassem. “Me sentia tendo uma outra oportunidade e com esperança de que poderia ir até a universidade”, ressalta.
Os dados coletados pelo Censo Escolar destacam outras questões presentes no EJA, como quase 80% dos estudantes se identificarem como pardos/pretos, número três vezes maior que a quantidade de alunos que se identificam como brancos.
As matrículas do segundo semestre para o EJA estão abertas até o dia 9 de agosto. Para se inscrever, basta comparecer em alguma das escolas da rede estadual que oferece o EJA ou realizar a matrícula de forma online através do site da Secretaria da Educação.