Coletivo dá visibilidade à cultura indígena na UEPG

O Coletivo de Estudos e Ações Indígenas (CEAI), criado em 2017, tem objetivo de dar visibilidade ao povo indígena dentro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A iniciativa surgiu para registrar as atividades que o grupo já realizava desde 2011. “A organização em forma de coletivo é boa porque todos têm responsabilidade e mérito”, comenta Leticia Fraga, professora de Letras da UEPG e membro do CEAI.

Atualmente, o Coletivo é formado por oito membros e conta com projetos na área de pesquisa e extensão. Leticia esclarece que a própria presença dos estudantes indígenas dentro da instituição não é fácil, então o CEAI é uma forma dar apoio para que eles possam se empoderar e compartilhar sua cultura com os demais membros da universidade. “Por que a gente não traz outras maneiras de pensar que não a europeia? A presença deles é muito importante porque somos levados a pensar de outras formas”, defende a professora.

Foto: Coletivo de Estudos e Ações Indígenas

Origem

Com início das atividades de pesquisa e extensão em 2011, foi em março de 2017, que os acadêmicos Joel Anastacio e Renato Pereira propuseram um curso da Língua Kaingang. “Eles vieram falar comigo, mas não é possível que eles registrassem o curso institucionalmente sem que um professor assinasse os documentos”, conta a professora de Letras, Leticia Fraga. Foi então que os três organizaram o curso, contudo, no sistema o que constava Leticia como coordenadora e Joel e Renato membros do projeto.

De acordo com a professora, foi com a experiência do curso que se tornou mais evidente a necessidade que possuíam desde o início, a de procurar uma organização em que todos pudessem ter mérito. Assim surgiu a ideia de se organizarem como um Coletivo.

Joel, acadêmico de agronomia, conta que sempre teve a vontade de fazer algo a mais dentro da universidade. Ele queria dar mais visibilidade indígena. “O legal do coletivo é que um está sempre contribuindo para ajudar o outro quando precisar”, comenta o aluno.

Hoje o coletivo é formado por acadêmicos, mestrandos e professores da universidade, indígenas e não-indígenas. “O CEAI está aberto para quem tiver ideias para contribuir com a visibilidade indígena ou atividades que fortaleçam a ideia de que o indígena hoje pode estar dentro da universidade, e formado em qualquer área”, explica Joel.

“Nós fomos, somos e seremos indígenas”

Joel Anastacio conta que dentro da universidade o estudante indígena encontra muitas dificuldades, o que não deveria, por ser um espaço aberto a todos. Ele destaca que o que para muitos são só brincadeiras, para o indígena pode ser motivo de desistir da universidade e se isolar em sua comunidade. “Quando eu me identifico como indígena, eles já me olham com outro olhar”, relata.

O acadêmico de agronomia fala que a universidade precisa ouvir e dar mais visibilidade para o estudante indígena. Neste sentido, destaca o empoderamento que o Coletivo trouxe. “Antes tínhamos medo, hoje lutamos para que tenham indígenas dentro das organizações acadêmicas e para mostrar que temos muito para contribuir”, reforça.

Joel ainda relata que existe um estereótipo de que o índio é aquele que está no mato caçando. “Ouço coisas como ‘ah, tá na universidade, então não é mais indígena’ quando ser indígena vai muito além disso, é se reconhecer como. Eu tenho isto como uma lição de vida, que futuramente vou estar passando para os meus filhos: que nós fomos, somos e seremos indígenas, independente da profissão que levamos”.

Atividades do Coletivo

Além do curso da língua Kaingang ofertado no ano passado, o Coletivo disponibiliza dois livros para o domínio público, possui trabalhos de Iniciação Científica e Extensão e publicou artigos sobre a origem do grupo e a resistência indígena dentro da universidade.

Dos dois livros já lançados, um é uma cartilha de alfabetização da língua Kaingang e outro traz a compilação de receitas medicinais indígenas. Ambos desenvolvidos em parceria com a comunidade Kaingang da Terra Indígena de Mangueirinha e estão disponíveis no site do Laboratório de Estudos de Texto da UEPG (http://sites.uepg.br/let).

Os próximos projetos do Coletivo contam com material didático de alfabetização na Língua Kaingang e livro infantil trilíngue, em português, espanhol e guarani, que está sendo desenvolvido em parceria com a comunidade Guarani de Inácio Martins. Os projetos do Coletivo podem ser acompanhados pela página no Facebook do projeto (https://www.facebook.com/ceaicoletivoindigena/).

Por: Daniela Valenga

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta