Empreendedorismo feminino cresce no Brasil, mas enfrenta barreiras culturais e desrespeito

Perspectiva das mulheres revela os desafios diários como empreendedoras

Por Isabelli Cetra Piva, Leonardo Correia Lima e Maria Fernanda Andrusko.

Mulheres empreendoras fortalecem a economia local, gerando renda e oportunidades em diversos setores. Foto: Leonardo Correia.

O empreendedorismo feminino tem apresentado dados de crescimento no Paraná. A partir de informações divulgadas pela Comunidade Sebrae, há o indicativo de que 44% dos negócios abertos em 2021 foram liderados por mulheres. Atualmente, elas representam 46% do total de empresários do estado. Esses percentuais dizem respeito tanto à criação de novos negócios quanto à liderança em empresas já existentes. O movimento tem se expandido, impulsionado por fatores como: busca por independência financeira, flexibilidade e a necessidade de maior representatividade feminina no mercado de trabalho. As mulheres empreendedoras trazem novas perspectivas e abordagens para os negócios e estão mais presentes em áreas do setor de serviços como alimentação, beleza e moda (44,2%), seguido pelo comércio (18,7%) e indústria (17,1%).

 As dificuldades enfrentadas pelas mulheres no empreendedorismo são acentuadas por barreiras adicionais relacionadas às normas culturais enraizadas na sociedade. Segundo estudo do Governo Federal, essas barreiras incluem preconceitos de gênero, acesso limitado a financiamento e redes de apoio, o que dificulta a formalização e o crescimento de seus negócios.

   Normas e costumes tendem a menosprezá-las, já que desde a infância o direcionamento é para as tarefas domésticas. Equilíbrio entre a família e o comércio, ou talvez outra profissão, o apoio nas tarefas de seus filhos, cuidar do pai ou mãe doente, lidar com dois ou mais âmbitos de trabalho. Elas são afetadas pelo cansaço, estresse e tempo insuficiente para se dedicarem aos negócios. 

Elizeia Maria Sinhori, empreendedora em um comércio de vila e psicóloga em Ponta Grossa, relatou dificuldades em estar neste lugar enquanto mulher, enfrentando o desgaste da jornada dupla e as intercorrências do atendimento direcionado ao público masculino. “A gente é bastante desrespeitada no sentido de estar trabalhando e eles não entenderem que a simpatia da gente não é safadeza”, comenta. Elizeia, que está nessa jornada dupla há um ano e meio, ainda ressaltou a ideia de que os comércios têm suas regras e que o público geralmente não as segue, levando ao assédio e a uma falsa ideia de proximidade e intimidade, o que gera momentos constrangedores e desconfortáveis.

Cimeia dos Santos, dona de uma lanchonete na cidade de Carambeí, relatou que o financeiro do estabelecimento comercial, a carga horária estendida até altas horas e a supervisão sobre pessoas embriagadas são os maiores desafios que ela encontrou na profissão. Cimeia alegou que a independência financeira e a confiança em seu trabalho é significativo para uma mulher empreendedora em um num espaço comunitário. “É essencial mostrar que uma mulher tem força para fazer o que pode sozinha, sem depender de um homem e poder ter suas próprias coisas”. A empreendedora aponta que a coragem e a assistência são importantes para a entrada das mulheres na profissão.

 

Dados do ano de 2022, fornecidos pela Comunidade Sebrae, apontam que no Brasil, 49% das mulheres empreendedoras são brancas, 48% são negras e apenas 2% são amarelas e indígenas. Em relação à idade, 67% têm entre 35 e 64 anos, 68% delas têm ensino médio completo ou superior completo. Também, os dados do Sebrae indicam que o Brasil é o 7° país com maior número de empreendedoras do mundo, com 32 milhões de mulheres na função.

Segundo Elizeia, a dica para quem quer empreender é: “O primeiro passo é começar”. Foto: Leonardo Correia

O Banco da Mulher Paranaense é um órgão do Governo do Estado, criado para estimular o empreendedorismo feminino. Ele oferece menores taxas de juros para as linhas de crédito de pequenos negócios e empresas que tenham mulheres como proprietárias ou sócias. O benefício possibilita a realização de investimentos como obras de construção, reformas, aquisição de maquinário, equipamentos, mobiliário, layout e capital de giro, para a formação de estoques de manutenção do empreendimento. O valor do crédito varia conforme o tempo do comércio. Para entrar com o pedido de crédito basta acessar o site da instituição

Além do Banco da Mulher Paranaense, outras iniciativas fortalecem o empreendedorismo feminino. O Prêmio Mulher de Negócios, realizado periodicamente pelo Sebrae, reconhece e valoriza empreendedoras que se destacam em seus segmentos, com inscrições abertas em seu site.

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