Com um roteiro digno de novela brasileira, cheia de reviravoltas e dramalhões, a história sobre a fusão entre os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente chegou ao fim – por ora. Durante sua campanha, o futuro presidente do país anunciou que, caso eleito, iria unir o Meio Ambiente à Agricultura. No início deste mês, contudo, ele recuou após pressão de ambientalistas; bem como decidiu manter o Ministério do Trabalho, que também fazia parte de seu plano de ter uma estrutura governamental mais enxuta.
Essa não é a primeira vez que Bolsonaro – com a licença de usar uma palavra muito utilizada pelo futuro presidente – “fraqueja” quando o assunto é meio ambiente. Em setembro deste ano, o então candidato do PSL havia afirmado posição desfavorável ao Acordo de Paris. Segundo ele, as exigências do documento ferem a soberania do país.
Agora, após a sua eleição, abre a possibilidade de negociar a manutenção do Brasil. Suas condições vão desde a não garantia a independência de nenhuma terra indígena até a segurança de que o país não teria que abrir mão da Amazônia. Aliás, em julho deste ano, em evento com ruralistas, ele disse que não haverá “nem um centímetro a mais para terras indígenas” e defendeu que as já demarcadas possam ser vendidas.
O Acordo de Paris é um tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi aprovado por 195 países em 2015. Uma de suas principais metas é reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa até 2020 e, consequentemente, evitar o aquecimento global. Em junho desse ano, Donald Trump confirmou a saída dos Estados Unidos do pacto global, dizendo que era ruim para a economia de seu país.
Quem compactua com essa ideia “trumptiana” é o próximo ministro de Relações Exteriores do Brasil, o diplomata Ernesto Henrique Fraga Araújo. O futuro chanceler tem um blog, mantido desde o início das eleições, em que destila bizarrices que vão desde um suposto projeto “antinatalista” da esquerda, a história dos “mitos” e a teoria do “fim da história” de Francis Fukuyama até opiniões sobre raça e miscigenação. Com relação ao meio ambiente, ele escreve que a “defesa da mudança climática” é um dogma que “vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China”.
Desse modo, como um papagaio que copia tudo o que o dono fala, Bolsonaro repetiu mais uma vez um discurso de Trump – que também é firmado por seus “adoradores”. No entanto, diferentemente do presidente dos EUA que havia prometido retirar o país do tratado internacional durante a sua campanha presidencial e o fez, o futuro presidente do Brasil não cumpriu o que disse – ainda. Que continue assim, “fraquejando”.
Marina Demartini