Por: Fabiana Andrea Barbosa Kastelijns
Ser convidada a refletir e escrever acerca da relevância de se discutir justiça social na escola sabendo que nos mais diversos meios de comunicação inundam nossos lares com notícias como a do homem que ejaculou em uma mulher em um coletivo de São Paulo e horas depois foi solto, mesmo com um histórico reincidente ou com postagem de jovem acadêmico do 10º. Período de Medicina de renomada IES pública do Paraná, na qual ele chamava de “vagabundas” acadêmicas do mesmo curso de outra IES e as assediava da maneira mais grotesca e desumana possível, é um grande desafio.
Ouvir, ver e sentir a sociedade brasileira da modernidade me faz, como educadora, mãe, mulher, humana, sentir que necessitamos urgentemente repensar os diálogos com nossos alunos nas diferentes esferas acerca da humanidade, da justiça, da sociedade. A escola, mais do que nunca, precisa ser um espaço formativo no sentido amplo.
Desde 1996, pós-Lei de Diretrizes e bases da educação, as equipes de educadores das escolas constroem (ou devem construir) junto da comunidade escolar (pais, alunos, funcionários e entorno da escola) os Projetos Políticos pedagógicos destes espaços, nos quais constantemente termos como “formar cidadãos críticos, reflexivos, participativos…” “promovendo a justiça social”…Contudo, basta um olhar para a sociedade para perceber que estas palavras não têm se materializado no entorno escolar (sim, eu sei que não depende apenas da educação, mas a vejo como fundamental neste contexto).
Entre “bases comuns” e “modismos” sinto que nos vamos perdendo enquanto humanos. Entre meritocracias escolares e sociais, vamos investindo em uma competição de cor, gênero, raça, classe social, que se reflete no assalto da esquina, no fake que ofende a seu bel-prazer, no homicídio no andar de baixo de nossos apartamentos, e nós, educadores, parece que estamos inertes, olhando, deitados em berço esplêndido, como se não fôssemos capazes de promover mudanças.
Aqui convoco o bom e velho Freire para nosso diálogo. Ele, nos idos de 60, já afirmava que educar é um ato político. Sempre se está a serviço de algo e alguém. Prefiro pensar que estou, nestes tantos anos de docência, a serviço de meus alunos, a serviço de uma sociedade mais justa, com mais participação ativa dos sujeitos. Preciso, sim, diariamente, levar meus alunos a compreender em minhas aulas a dinâmica social posta, trazer a eles uma opção à cegueira branca cantada por Saramago, dar a eles as armas de Dubet e sua escola justa, ampliar seu repertório, aproximando-os e levando-os refletir sobre a reprodução anunciada por Bourdieu há quase um século, pois assim, e somente assim, farei valer cada linha do Projeto Pedagógico de minha escola, farei jus aos juramentos feitos nas minhas duas formaturas e trarei para os bancos escolares e universitários a chance de a justiça social efetivamente acontecer para as próximas gerações brasileiras.
Olá Profa Fabiana!
Falar de “formar cidadãos críticos, reflexivos, participativos…” diante de uma sociedade cheia de conflitos morais é antagônico é utopia! Mas como não correr atrás disso? Como não fazer para acontecer? Se deixar levar pelo sistema é adoecer diante de tantas injustiças e descrenças sociais. Desanimar “jamais”. Mesmo que, as vezes, é como se tivéssemos que “renascer das cinzas – fênix”. Sempre um recomeço que de alguma forma pode vir a esbarrar em alguém e modificar sua história de vida. Muito interessante o texto!
Abraços