Além do consultório: relatos e desafios de psicólogos voluntários

O Brasil é o país com a maior prevalência de depressão na América Latina. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofre com o transtorno, o que equivale a 11,7 milhões de brasileiros. Segundo um relatório divulgado em 2015 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), apesar da depressão atingir pessoas de todas as idades e camadas da sociedade, a chance de alguém desenvolver a doença aumenta com a pobreza e com o desemprego. Além do risco ser maior, existe a dificuldade de tratar o problema por conta dos custos do tratamento psicológico.

Neste Setembro Amarelo, trazemos relatos de psicólogos e estudantes de instituições que já trabalharam ou ainda trabalham com a psicologia voluntária, a fim de ajudar pessoas que não têm condição de pagar o tratamento.

 

Psicologia para crianças

O psicólogo Ednilson Rossa concluiu a graduação no ano de 2015 com a intenção de trabalhar com as crianças da instituição Guarda Mirim. Ednilson é corretor de seguros e não depende da psicologia para viver, assim, destina dois dias da semana para atender gratuitamente seus pacientes. “Alguns dos pacientes que eu atendo entram em processo terapêutico, outros ficam mais para uma psicoeducação, que é mais uma posição de ouvir e de orientar, o que não deixa de ser importante”.

Rossa tinha uma escola de balé gratuita para as crianças da Guarda Mirim em 2019 e fechou em 2020 por conta da pandemia. Ele conta que solicita aos seus pacientes o apoio com sapatilhas e roupas para a reabertura da escola, prevista para 2025. “Eu deixo combinado com os meus pacientes o seguinte: quando voltarmos com essa instituição, vocês me ajudam a arrumar sapatilha ou roupas para as crianças participarem, para que elas possam exercer o balé sem custo”, explica. Além das famílias da Guarda Mirim, ele recebe pessoas de outras instituições que os colegas encaminham ou famílias que não estão ligadas a nenhuma instituição mas estão vinculadas ao CRAS ou ao CAPS, atendendo adolescentes e adultos. 

 

Atendimento na Universidade

O estudante do quarto ano de Psicologia na Universidade Cesumar, Pedro Augusto,  realiza atendimentos gratuitos pela Universidade. Segundo ele, os alunos do quarto ano realizam o psicodiagnóstico, que são sete sessões dedicadas a buscar informações sobre o paciente, suas queixas, e entender se há algum transtorno, doença, déficit. “O psicodiagnóstico é uma etapa inicial e indispensável ao psicólogo atuante em psicologia clínica, é a etapa inicial, de entendimento”.

Os pacientes são informados sobre as possíveis opções e escolhem se querem encerrar os atendimentos ou continuar com o tratamento, com sessões que duram cerca de 50 a 60 minutos. Pedro ressalta que os alunos do quarto e quinto anos já possuem bagagem teórica, sendo capazes do atendimento, e realizam sessões de supervisões semanalmente com o professor orientador para discussão do caso e da postura do psicólogo. “Tudo é conduzido com sigilo profissional, garantindo a segurança do professor, dos alunos e principalmente do paciente”, conclui Augusto.

Para se cadastrar, basta ir na clínica que se localiza na Universidade Cesumar. Também é possível enviar mensagem via WhatsApp, no número (42) 9165-3457, para solicitar e entrar na fila de atendimento.

 

Atendimento social

Melissa Perinotti atua há um ano na área da psicologia. Realiza os atendimentos particulares, porém, conta que abriu a agenda para atendimentos sociais logo após se formar e estar com todas as questões burocráticas regularizadas. 

“Sei que a realidade financeira de muitas pessoas não permite que elas possam pagar pelo valor de sessões particulares, por isso decidi, desde que estava na faculdade, que quando iniciasse a minha carreira iria abrir agenda para atendimentos sociais”, relata a psicóloga. 

Melissa explica como realiza o processo terapêutico: “Eu não trabalho com um tempo pré-determinado na psicoterapia, pois pela maneira que atuo o paciente possui a liberdade para trazer suas demandas de maneira livre e normalmente as sessões podem ocorrer por um período mais prolongado”. Ela também oferece uma outra modalidade de psicoterapia breve para pacientes com sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Nesses casos as sessões são presenciais e podem levar um período mais curto para a sua finalização: “se ocorrer a presença correta do paciente pode levar em média de dois a três meses aproximadamente para a terapia ser concluída, a depender  das questões a serem trabalhadas durante as sessões”.

Atualmente o atendimento abrange adolescentes e adultos, em sua maioria na modalidade online. Porém, se o paciente possui preferência pelo atendimento presencial, ela realiza conforme agendamento prévio. O atendimento pode ser adquirido mediante uma conversa, para que a psicóloga possa compreender melhor a realidade daquela pessoa e conceder o serviço. 

A psicóloga Adriana Dal Bosco também trabalhou como psicóloga voluntária em algumas instituições de Ponta Grossa. Além de crianças, ela também atendia mulheres em situação de vulnerabilidade social, mas deixou de trabalhar pela escassez de lugar apropriado nessas instituições e por falta de interesse das pacientes. “Nas instituições meu trabalho não era levado a sério e até servia como ameaça para as crianças. Com as mulheres eu reservava um horário para atendê-las e acabavam não conseguindo comparecer por diversos impedimentos pertencentes à realidade delas”, relata.

Para Adriana, é evidente que elas deixavam de querer cuidar da saúde mental para suprir problemas básicos como por exemplo arrumar um emprego e pagar as contas, que nesses casos eram as prioridades. A psicóloga não atende de maneira gratuita, mas oferece a possibilidade do atendimento pelo valor social de 40 a 50 reais.

Roda de diálogo mediada por psicanalista na ocupação Ericson Duarte com participantes de projetos de extensão da UEPG

 

Saúde mental de estudantes

 

Bruna Fidelis, psicóloga educacional vinculada à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UEPG, afirma que durante o período de formação acadêmica a sensação de insuficiência e de sobrecarga, causada pela rotina de estudos, pode fazer com que o estudante desenvolva algum tipo de transtorno. “Grande parte dos alunos não recebem remuneração para arcar com um tratamento particular e enxergam como única saída abandonar o curso. Eles precisam saber que podem contar com os serviços da Universidade e recorrer sempre que preciso”.

A psicóloga explica que ela não realiza serviço clínico na instituição, mas faz o devido encaminhamento. No momento em que ela recebe a solicitação, que pode ser feita por meio do número (42) 2102-8656, ela analisa e identifica a condução ideal para o paciente em questão, dependendo das suas demandas.

O encaminhamento é feito para o ambulatório da saúde mental da UEPG, que também pode ser diretamente contatado pelo número (42) 99141-8937, ou para a Unidade Básica de Saúde mais próxima a esse paciente. Há uma lista de espera em que o indivíduo é inserido e aguarda ser chamado. Todas as fases que antecedem e o tratamento em si são totalmente gratuitas.

Dia 09 de outubro haverá o lançamento do Grupo de apoio em saúde mental para estudantes. Os encontros acontecerão quinzenalmente, com alternância entre a UEPG Centro e Uvaranas, para que todos os estudantes sejam incluídos. Com temáticas trazidas pelos participantes, o grupo compartilhará suas questões com a orientação de uma equipe psicológica especializada. A iniciativa funcionará como uma terapia em grupo e a intenção é que haja uma identificação seguida da resolução dos problemas apresentados.

Interessados podem preencher o formulário disponível pelo link: https:/www.upeg.br/grupo-de-apoio-prae/

 

Serviço público

O Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS, também é uma alternativa para quem necessita de um tratamento gratuito. Ele faz parte da rede de atendimento do SUS e funciona como um serviço de portas abertas. Não há a necessidade de encaminhamento para o atendimento ser realizado, basta o paciente chegar e solicitar acolhimento. O CAPS conta com uma oferta multiprofissional que atende de acordo com a necessidade de cada indivíduo. O pedido pode ser feito diretamente no endereço: Av. Antônio Rodrigues Teixeira Júnior, n. 229, ou pelo telefone 3220-1021.

Serviços imediatos para assistência psicológica:

Centro de Valorização da Vida – CVV: telefone 188

SAMU: telefone 192 

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta