Conscientização não é suficiente para enfrentar a violência
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes acontece em 18 de maio. Este ano a campanha Faça Bonito chegou a sua 24° edição em Ponta Grossa. Mesmo com todos os movimentos e conscientização, o número de denúncias de violações contra crianças e adolescentes aumentou entre 2020 e 2023, de acordo com relatório realizado pelo projeto Cadê Paraná – Crianças e Adolescentes em Dados e Estatísticas, do Centro Marista de Defesa da Infância. O estudo teve como base três portais de denúncia sendo eles o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e o Disque 100 – Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.
De 2020 a 2022 o Sinan registrou 444.906 notificações de violências contra crianças e adolescentes e o Disque 100 registrou 575.795 denúncias. O Sipia recebeu 552.872 registros de 2020 a 2023. No período, foram registradas 2.827.032 violações contra crianças e adolescentes.
Segundo o estudo a prevalência de meninas como vítimas de abuso sexual pode ser observada em todas as faixas etárias, considerando todos os perfis de prováveis agressores.Os dados do Disque 100 apontam que 84% dos cenários de violência sexual física e psicológica contra crianças e adolescentes tem como agressor alguém da família.
A professora de serviço social da UEPG, Danuta Cantoia, foi a coordenadora da semana de enfrentamento às violências contra crianças e adolescentes realizada na universidade em 2024. Ela afirma que enfrentar a violência não tem relação com aumentar o policiamento, legalizar o porte de armas ou construir mais cadeias. “Existe uma estrutura por trás da violência que não se resolve a partir dessas ações: a desigualdade”, esclarece. Danuta explica que o Brasil é marcado historicamente pela desigualdade, e altos índices de desemprego, fome e miséria apenas agravam o problema. “Crianças e adolescentes estão presentes neste sistema desigual, então investir estruturalmente na sociedade para enfrentar a desigualdade é o principal”, destaca.
A professora frisa que a violência não se apresenta apenas em situação de pobreza, ela também está presente nas camadas mais altas da sociedade. Ao falar de Ponta Grossa a pesquisadora ressalta o maior desafio da região: o que significa ser criança e adolescente. “A criança na sociedade é considerada um objeto, não um sujeito em formação com direitos e deveres”, lamenta. Danuta expõe que ao tratar as crianças como “pertences” a violência passa a ser socialmente aceita. Ela finaliza dizendo que o primeiro desafio é compreender a criança como um sujeito em desenvolvimento, que possui necessidades de cuidados especiais.
Para denunciar basta ligar para o Disque 181, que o registro será feito de forma anônima para a Secretaria de Segurança Pública do Paraná. Também é possível fazer as denúncias para o Sipia, Sinan e Disque 100 citados no texto. As denúncias podem ser feitas por qualquer pessoa, vítima ou testemunha de situações de violência.