A mostra, aberta para visitação no Museu Campos Gerais, tem como objetivo promover o debate sobre a situação atual e histórica da Palestina por meio de desenhos
A nova exposição do Museu Campos Gerais “ Naji – Apartheid na Palestina em Cartuns” apresenta as obras do cartunista palestino Naji al-Ali, que retratam a luta, vida, esperanças e sofrimento do povo palestino. A mostra é uma produção do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), do Projeto de Extensão Educação em Direitos Humanos e Ensino de História e do Comitê Ponta-Grossense de Solidariedade à Palestina com apoio do Comitê Árabe-brasileiro de Solidariedade do Paraná.
Naji Al-Ali nasceu na aldeia Al-Shajara na Palestina em 1938. Quando tinha 10 anos de idade, as forças israelenses ocuparam sua aldeia e ele foi forçado a fugir com sua família para o sul do Líbano, onde ficaram refugiados. Os primeiros desenhos do cartunista foram publicados em 1962, a partir disso Al-Ali surge como um ícone na luta palestina. Seus desenhos são um símbolo de resistência dos povos árabes. Para ele, resistir é a única forma de recuperar aquilo que foi perdido. No dia 22 de julho de 1987, Naji Al-Ali estava a caminho de seu trabalho em Londres, quando foi atingido por uma bala que ficou alojada em seu olho e o levou à morte, 38 dias depois do coma, em 29 de agosto de 1962.
O professor do Mestrado de História da UEPG, Luís Fernando Cerri, um dos organizadores da exposição, conta que a ideia surgiu em uma reunião do comitê de solidariedade à Palestina, juntando os interesses e a dinâmica do mestrado em História, que tem uma grande preocupação nacionalista com a militância do comitê. “O mestrado em História tem uma associação íntima com o Museu Campos Gerais, trouxemos para o museu a ideia e eles acharam muito boa e acataram”.
O professor explica que o processo demorou cerca de três meses, passando pela curadoria de imagens, a definição de como as imagens seriam expostas e os ajustes diante das preocupações do Comitê e do mestrado em expressar mais do que a indignação com o genocidio e o apartheid. Segundo ele, a proposta foi documentar isso e esclarecer que não é uma invenção ou uma opinião política do comitê ou dos organizadores, mas sim um processo real, que vem sendo registrado por várias ONGs e entidades supranacionais. “Procuramos dar espaço e visibilidade para essa discussão da Palestina, então ao mesmo tempo que é um ato de estudo, acadêmico, é um ato com características políticas e também um ato de solidariedade”, afirma Cerri.
Segundo o professor, o apartheid e o genocidio palestino podem ser relacionados com a realidade brasileira. Cerri compara o que esta acontecendo com o povo palestino, com a presença de Israel, com o que aconteceu com os indígenas do Paraná, que tiveram seu território tomado e sua presença física, cultural e espacial apagada por um grupo que veio de fora. “Trazer essa exposição e esse debate tem a ver com a importância e necessidade de que esse assunto seja pensado, o que a gente quer é que as pessoas conheçam, saibam e pensem sobre”.
Personagens de Naji Al Ali
De acordo com o jornalista e crítico Abdullah Omar, que produziu o material “Naji Al Ali: Ícone da luta palestina”, publicado pelo instituto Monitor do Oriente Médio, a caricatura “foi a ferramenta com a qual ele tentou contestar o sistema de valores à sua volta”. Entre seus personagens estão Handala, um símbolo da resistência palestina: o garoto descalço, com roupas rasgadas, sempre de costas e com as mãos para trás, é a testemunha da guerra, das bombas que destroem mesquitas, escolas e hospitais, do imperialismo americano e da disseminação do sionismo.
Outra criação do cartunista é Fátima, que de acordo com o jornalista representa amor, amizade, bondade e doação, além da importância da luta das mulheres pela liberdade. Há também o Homem Bom, que representa a figura comum do árabe simples, pobre, oprimido, que perdeu seus familiares na guerra, mas que mesmo diante deste cenário declara lealdade ao seu povo e sua terra.
As obras de Naji Al Ali também trazem personagens que representam aquilo que há de ruim no mundo árabe, como políticos corruptos, oportunistas e opressores. Na análise de Abdullah Omar, as figuras aparecem inchadas, muitas vezes sem pés ou pescoço, não possuem raízes e estão sempre dispostas a trair a nação em troca de alguns dólares. Há ainda o Soldado Israelense, marcado pela covardia e fraqueza.
Serviço
O Museus Campos Gerais fica localizado na rua Rua Engenheiro Schamber, nº 686, no centro de Ponta Grossa. A exposição ficará aberta à visitação durante três meses.