A doença está erradicada do país desde 1994, mas para continuar é preciso atingir os 95% recomendados pelo Ministério da Saúde
Ponta Grossa enfrenta um cenário preocupante em relação à poliomielite, com a cobertura vacinal abaixo do ideal. Até o momento, em 2024, o Paraná já registrou 10 casos da doença, somando 98 nos últimos quatro anos, de acordo com o painel epidemiológico do Ministério da Saúde. No município, a vacinação contra a poliomielite atingiu apenas 81,82% para a Pólio Injetável (VIP) e 82,73% para a Pólio Oral Bivalente, bem abaixo dos 95% recomendados para garantir a imunidade de rebanho.
Essa insuficiência eleva o risco de reintrodução do poliovírus, especialmente em um cenário nacional onde o Brasil foi classificado como de muito alto risco em 2022 e de alto risco em 2023 para o ressurgimento do vírus. Segundo informações da Campanha Nacional de Vacinação Contra Poliomielite deste ano, disponibilizada no site do Ministério da Saúde com dados contidos na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) atualizados no dia 8 de agosto, dos 19 mil da população alvo, apenas 5 mil doses foram aplicadas, e entre crianças de 1 até 4 anos uma média de 26% foram vacinadas.
Danielle Ruiz Miyazawa Ferreira, médica infectopediatra do Hospital Universitário de Londrina e do Hospital do Câncer de Londrina, destaca a importância de atingir a meta de 95% nas campanhas de vacinação. “Essa porcentagem garante a imunização de rebanho, protegendo inclusive os 5% que não podem ser vacinados devido a reações alérgicas ou outras contraindicações”.
Ela ressalta que, desde a pandemia, a adesão às campanhas caiu significativamente, pois muitos pais temiam sair de casa para vacinar seus filhos. Além disso, Ferreira alerta para o impacto negativo das fake news, que dificultam ainda mais os esforços de vacinação. “A orientação médica tem um papel fundamental na adesão às vacinas. Quando os pais levam a carteirinha de vacinação para o médico conferir, a probabilidade de manter as imunizações em dia é maior”, explica. Para reverter a baixa adesão, ela sugere que uma divulgação mais intensa, informando sobre os locais de vacinação e a realização de mutirões, pode aumentar a cobertura vacinal e ajudar a atingir a meta necessária.
Maria Eduarda Solano Baptista mantém as vacinas de sua filha em dia e diz que, mesmo não recebendo a explicação do que necessariamente significa a poliomielite, nunca rejeitou as vacinas, pois se elas existem é porque são importantes.
Importância da prevenção
O vírus da poliomielite pode ser transmitido por via fecal-oral, ou seja, a pessoa pode se infectar através de água ou alimentos contaminados. O vírus se aloja no intestino e em alguns casos pode atingir o sistema nervoso central, causando então uma paralisia.
Maria Eduarda também destaca a importância de combater o pensamento negacionista da sociedade brasileira sobre as vacinas, que acabou crescendo drasticamente com a pandemia do Covid-19. “O pensamento negacionista se reverte com educação, sem dúvidas o fortalecimento das políticas públicas, com desenvolvimento de ações para firmar a vacinação como algo obrigatório, pode evitar futuros problemas”, observa.
A campanha contra a poliomielite acontece todos os anos entre os meses de maio e junho, mas é obrigatório que os postos de saúde disponibilizem a vacina durante o ano todo para os responsáveis que a procurarem.