Seminário debate os reflexos da pandemia na saúde mental de estudantes e professores  

A primeira edição do evento contou com aproximadamente 200 alunos e alunas

O evento “I Seminário sobre os impactos da pandemia na saúde mental” realizado na última sexta-feira, 5, no auditório do Instituto de Educação Prof. César Prieto Martinez em Ponta Grossa, trouxe o debate dos reflexos da pandemia no bem-estar dos estudantes e professores. Aberto para toda a comunidade, o evento promovido pelo Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) contou com palestras do psicólogo Pedro Henrique Moraes e da assistente social Jordana Murmel. 

De acordo com Lislei Teresinha Preuss, coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da UEPG, “as crianças e os adolescentes foram os mais atingidos pelo contexto pandêmico”, período em que houve um aumento significativo da busca por atendimento psicológico. O evento tratou das dimensões entre a saúde mental e os transtornos, seus sofrimentos e patologias, e do mau desempenho escolar e académico.

Para Pedro Henrique Moraes, “ter saúde mental é reconhecer que temos limites, que as outras pessoas também têm limites. Conseguir se relacionar com os outros e viver bem em sociedade é um sintoma de saúde mental”. A segunda palestrante do dia, Jordana Murmel alertou para comportamentos e sinais de que a saúde mental está prejudicada, afirmando que para ter qualidade de vida é preciso identificar e saber lidar com os problemas.

Ao fim da apresentação, a discussão foi aberta para perguntas, dúvidas e comentários. Entre os assuntos levantados, destacam-se a falta de interação com outras pessoas durante o período de isolamento, o que inclui os problemas para manter vínculos sociais e fazer novas amizades, e as dificuldades para estudar pelo ensino remoto, além do medo de se infectar com a Covid-19.

A plateia também relatou as dificuldades de adaptação no pós-pandemia, período conturbado e repleto de incertezas, inclusive sem saber se a convivência já era segura ou se o risco de contaminação ainda era alto. “Muitos estudantes queriam voltar para a escola, mas os pais não deixaram”, lembrou uma professora. Na opinião dos espectadores, o retorno foi especialmente complicado para os alunos novos, que ainda não conheciam os colegas e professores presencialmente.

Perfis comuns com cicatrizes pandêmicas

Durante os dois anos de pandemia, várias pessoas tiveram sua saúde mental prejudicada, mas também houve quem conseguiu usar esse tempo para cuidar de si mesmo. Isolamento, aumento da demanda de trabalho e diminuição das relações sociais são algumas das consequências que a pandemia trouxe e que, até agora, são sentidas nas pessoas. No âmbito educacional não foi diferente. Confira o perfil de uma aluna e de uma professora da rede pública de ensino sobre a saúde mental durante e após a pandemia. 

Ler, pintar e jogar xadrez

Ter a facilidade de falar bem em público nem sempre foi uma das qualidades da estudante do segundo ano do ensino médio Rafaela Martins Fogaça, de 16 anos, que desde antes da pandemia tinha uma certa dificuldade para socializar, ainda mais na escola. Foi depois que o mundo começou a voltar ao “normal” que Rafaela Martins adquiriu uma maior confiança para falar em público. E fala muito bem, mesmo em um auditório com mais de 100 espectadores ela estava lá, apontando suas percepções sobre saúde mental. 

Se já não era fácil lidar com todo o peso de ser adolescente, isso só se agravou com o início da pandemia. Entretanto, Rafaela nunca deixou seus hobbies de lado. Ela conta que sempre gostou de ler, pintar e jogar xadrez e que isso ajudou um pouco a manter sua cabeça no lugar e não surtar. “Eu avalio que minha saúde mental melhorou muito desde a volta ao ‘normal’, quando pude socializar novamente. Foi quando senti toda essa discrepância de sentimentos no dia a dia”, afirma. 

Os sentimentos de solidão, ansiedade e transtornos alimentares são algumas das dificuldades que a estudante apontou estar presente nos dois anos de pandemia. “Continuo sofrendo com os reflexos, eu fiquei bem doente ano passado, perdi 9 kilos em menos de 2 meses”. Esses dois anos não foram fáceis, com 9k a menos, as aulas voltaram e a estudante pegou novamente as rédeas de sua vida e saiu do piloto automático. “Parece que sou um cachorro que ficou preso em um canil e quando é solto sai adoidado”, conclui. 

Parar, respirar e aguentar

Viver em tempos de pandemia era algo inimaginável até então, como conta a professora de educação física Carla Hass, de 46 anos. Com a voz baixa, a professora com 21 anos de profissão diz que cada pessoa vivenciou e foi impactada pela pandemia de uma forma diferente, mas que para ela foi uma chance de se redescobrir e evoluir mentalmente. Os primeiros momentos foram conturbados e semelhantes a um filme de terror dos anos 70, mas após o choque inicial, Carla conseguiu manter a saúde mental e considera que esteve em paz consigo mesma ao longo da pandemia.

“O difícil foi se adaptar a cada mudança que vinha”, disse a professora em relação à situação profissional. Mesmo tendo facilidade para lidar com a tecnologia, Carla afirma ter sofrido bastante durante o ensino remoto, principalmente pelo aumento da demanda de trabalho. Segundo ela, havia uma falsa percepção na sociedade de que os professores não estavam trabalhando, sendo que na realidade eles estavam sobrecarregados.

Como grande parte dos professores criam laços afetivos com seus alunos, ficar afastado desta relação social por dois anos não foi algo fácil para a manutenção da saúde mental. Com a expectativa de que o isolamento social fosse durar apenas alguns dias, esse rompimento não foi tão marcante, mas com o passar dos meses a saudade foi sentida. “O contato humano com os alunos fez falta. Senti saudades de ver meus alunos se formando, ver aquela consideração que eles têm sobre nós professores durante a formatura”.

Não é só de aula que vive um professor. O que ajudou Carla Hass a aguentar esse período conturbado foi não precisar se afastar totalmente de sua família e também, é claro, o hábito de fazer caminhadas matinais pelas ruas de Ponta Grossa, respirando fundo e limpando sua mente. “Mesmo me cuidando, o estresse de sobrecarga de trabalho chegava e eu precisava botar o pé no freio, ficar calma, respira e pensar que vai dar tudo certo”, foi assim que Carla, mãe solo de um filho de 16 anos, chegou até a reta final dessa corrida apocalíptica. 

Imagens do evento:

 

 

 

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