Como nós (pessoa sem deficiência) podemos ajudar as pessoas com deficiência?

É possível começar uma reflexão problematizando a própria nomenclatura “pessoas com deficiência” (PCD). Falo isso, pois a própria concepção do termo nos remete a uma ideia de uma forma “normal” de se viver em detrimento de uma outra manifestação e experiência de vida, essa que não se enquadra dentro daquilo que é concebido como padrão, pois se fazemos o movimento contrário, em nenhum momento usamos termos como pessoa sem deficiência, pessoa que ouve, pessoa que fala, pessoa que anda. Entretanto, estamos longe de experimentar uma sociedade onde, indistintamente, todas e todos são tratados e respeitados como “pessoas”. Daí a tão valorosa luta dos grupos socialmente minoritários em pautar seus anseios, conquistar direitos e romper com o preconceito. O que se propõe é ressignificar o termo para expor as diferenças para que sejam assistidas.

Acho importante situar o leitor. Quem vos escreve não possui nenhum tipo ou grau de deficiência, me atrevo a apresentar algumas considerações a partir de vivenciar a luta dessas pessoas há mais de 10 anos e pesquisar acessibilidade comunicativa para elas. Não busco deslegitimar a abordagem das ciências da saúde no trato com esses cidadãos, longe disso. O movimento aqui é de discutir socialmente como nós – pessoas sem deficiência – podemos colaborar com o dia a dia daqueles e daqueles que possuem algum tipo de deficiência física. Isso porque, o dia 11 de outubro é marcado como o Dia da Pessoa com Deficiência Física, data oportuna para discutir políticas públicas para esse grupo e fomentar, de maneira especial, ações visando romper com um olhar preconceituoso para com essas pessoas.

Há uma frase que é apropriada pelo movimento de pessoas com deficiência que ajuda a entender uma primeira lição de comportamento: “nada sobre nós sem nós”. Ou seja, toda e qualquer ação (mesmo aquela bem-intencionada) que visa atingir direta ou indiretamente as PCD devem ser construídas de maneira coletiva com elas. Não há ninguém que saiba melhor o que precisa, do que a própria pessoa que sente na pele.

Acessibilidade é o caminho para a inclusão. Ter a possibilidade de acessar os espaços sociais e viver de forma autônoma é um direito. Mais vale os estabelecimentos garantirem corrimãos, rampas e dispositivos sensoriais para o acesso autônomo, do que atos de caridade e auxílio para locomoção das PCD. Isso garante o protagonismo. Inclusão acontece com autonomia.

As pessoas com deficiência são p-e-s-s-o-a-s, o trato infantilizado para com elas não ajuda em nada, bem como, colocá-las em situação de pena e dó. São pessoas com histórias, lutas, marcas, famílias, enfim, que carregam ao longo da vida o desejo de respeito.

Trata-los como super-heróis também não ajuda na luta coletiva. Aqui, chamo atenção, especialmente dos colegas jornalistas. Expor os feitos de superação de uma pessoa com deficiência em específico, maquia a opinião pública sobre elas, tirando o foco da luta coletiva por acessibilidade, direitos e protagonismo, e muitas vezes, personificando a experiência, levando e resumindo os desafios das PCD puramente no ambiento pessoal e meritocrático.

E talvez, a postura central, que perpassa todas as demais: somar na luta por políticas públicas para as PCD. Seja elegendo candidatos com deficiência física que se dispõem a cumprir um mandato político para contribuir com as demandas de seus pares ou representantes comprometidos com a causa das pessoas com deficiência; fiscalizando as leis já existentes; apoiando a luta por outros direitos; ouvindo e respeitando cada um deles.

Outra maneira bem significativa de contribuir com as conquistas dessas pessoas é oportunizar vagas de trabalho, pois o emprego é uma forma do ser humano conquistar sua autonomia.

Conviver e aprender. É assim que vamos construir uma sociedade em que todas e todos tenham seus direitos legitimados e respeitados. Datas como essa – 11 de outubro – são oportunas para celebrarmos a luta que não é de hoje e espalharmos a necessidade de mais gente assumir a tarefa de construir um mundo mais justo e fraterno.

Felipe Collar Berni

O autor é jornalista, mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e pesquisador da temática da acessibilidade comunicativa para pessoas com deficiência intelectual.

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