Mulheres na artes cênicas: o teatro como instrumento de reflexão humana e cultural

O teatro é reconhecido como uma manifestação cultural que aprimora o pensamento crítico das pessoas

 

As artes cênicas são umas das principais formas de expressão através da arte. Elas têm um papel fundamental na formação da identidade cidadã, uma vez que estão ligadas a diversas manifestações culturais e individuais. Em uma entrevista com três atrizes, elas nos contaram a importância do teatro, tanto no município de Ponta Grossa quanto as suas perspectivas em relação a ele.

Para Ligiane Ferreira, integrante do grupo de teatro Carolinas, o teatro busca a essência do ser, “Se o teatro ele está inserido neste contexto, ele abre caminhos e questiona, ele coloca algumas situações que devem ser colocadas à luz da sociedade e é extremamente fundamental para a nossa saúde e qualidade de vida, então eu arriscaria dizer que sem teatro, não há humanidade”. Para a atriz Mariele Zanin, participante do Grupo de Teatro Cidade de Ponta Grossa (GTPG), o teatro é um agente transformador, capaz de mudar vidas. De acordo com a atriz, a arte é um caminho do bem e um meio de tornar as pessoas com um posicionamento crítico em relação à sociedade. Para ela, o teatro deve ser acessível a qualquer pessoa interessada, sem limite de gênero ou raça. A artista acrescenta que ele ainda possibilita desenvolver habilidades como trabalho em equipe e expressão corporal.

Michella França participa do grupo Dia de Arte e concebe a arte em conjunto com a parte social. “A gente trabalha com pessoas com sentimentos, então não tem como, na minha opinião, se desligar da questão social e política.” Pensando assim, Michella leva estes temas sociais para discussão em suas peças, porque para ela, a arte tem um poder transformador e poderoso de unir as pessoas e trazê-las para dentro da história.

Teatro em Ponta Grossa

Para as atrizes, o teatro em Ponta Grossa está crescendo. Segundo Mariele, o Grupo de Teatro Cidade de Ponta Grossa está ativo aproximadamente há seis anos, e além de produzir peças teatrais de forma gratuita e acessível para a população, os artistas recebem uma bolsa de incentivo. Também, há diversos grupos independentes produzindo peças através de editais que viabilizam iniciativas culturais. “Antes só tínhamos teatro no mês de novembro, no FENATA (Festival Nacional de Teatro). Hoje os artistas locais estão produzindo e organizando apresentações durante o ano todo e isto está sendo lindo”, disse a atriz.

Michella França em sua fala diz que, em relação ao teatro, as pessoas estão buscando se profissionalizar e que terão muitos grupos e artistas novos que vão permanecer. “Isso é muito bom e deixa a gente muito feliz”, completou.

Ligiane Ferreira diz que ainda precisamos entender o papel fundamental do teatro. “Se só está divertindo, a gente tem que começar a pensar, mas se ele traz reflexão e traz várias linguagens, se ali está inserido o teatro negro, que eu acho fundamental, a gente começa a entrar em um futuro para o teatro muito interessante na cidade”.

Incentivos

De acordo com Michella, leis que viabilizam que os grupos teatrais façam suas apresentações, recebam por elas e que levem ao público de forma gratuita são uma forma de incentivo para que as pessoas deem valor para a arte. Mariele fala que editais de incentivo como PROMIFIC (Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura), Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc são de extrema importância para viabilizar projetos artísticos. Na perspectiva de Ligiane, é importante ir ao encontro do público. “Já trabalhei em bares e fiz em espaços de yoga, eu acho que qualquer lugar é lugar de teatro. Tendo um espectador ali presente, se faz teatro”, completou.

Dificuldades

Para Mariele, uma das dificuldades encontradas é a cultura de achar que apenas o que vem de fora é bom. “Diversas vezes vi a diferença de público em peças vindas de outras cidades e as peças locais. Mas a verdade é que estamos produzindo peças incríveis na cidade”. Ela completa dizendo que devemos acreditar na nossa capacidade, porque Ponta Grossa é uma cidade de grandes talentos. Conforme Ligiane enquanto trabalhadora de cultura, outra eventual dificuldade é se manter com o teatro, há a necessidade de ampliar esta discussão. Michella também fala sobre o retorno financeiro e levar o público para o teatro, “As pessoas poderiam incentivar mais o artista local, então eu acho que as dificuldades são sempre as mesmas. Primeiramente é a questão da produção, do financeiro, como produzir e a segunda é estar levando mesmo o teatro”, disse ela.

Mulheres na participação do teatro

Na visão de França, “O teatro dá um campo enorme para todo mundo, está tendo um campo muito grande também para as mulheres pretas”. Para Mariele Zanin, as mulheres estão cada vez mais focadas e determinadas a buscarem seus objetivos, “Se pensar no papel das mulheres há anos, tudo era relacionado à família… casar, ter filhos e ser dona de casa. Inclusive, houve uma época em que os papéis femininos eram encenados por homens vestidos de mulher. Hoje em diversas áreas, as mulheres são protagonistas das próprias histórias”, falou Zanin. De acordo com Ligiane que trabalha com esta temática em suas peças, precisamos de mais presença feminina. “A gente sempre falou enquanto mulheres enquanto teatro, a necessidade de ter toda uma equipe de mulheres, desde sonoplasta, iluminadora, produtora, artistas… De ter esse teatro específico feito por mulheres”.

Trajetórias

Desde pequena, Mariele participava de vários eventos culturais na escola e na igreja, e durante a adolescência começou a entender sobre a profissão de atriz. Ao terminar o ensino médio, ela optou por cursar Jornalismo e em paralelo, terminou o curso de teatro. Quando terminou a faculdade, ela fez a banca para se profissionalizar como atriz em Curitiba e passou. “Trabalhei com marketing em uma escola da cidade por um ano e meio para guardar dinheiro. Chegou um momento que eu pedi demissão e com o DRT (Delegacia Regional de Trabalho) em mãos, fui para o Rio de Janeiro fazer um curso de interpretação para tv e cinema”, conta a atriz. Ela voltou para Ponta Grossa para passar as festas de fim de ano e decidiu ir novamente para o Rio de Janeiro, porém aconteceu a pandemia de COVID-19. Desde então, além de integrar o GTPG, Mariele trabalha com publicidade em Ponta Grossa e Curitiba. Ela participou de duas séries em Curitiba, “Plano B” e “Uma Garota de Fé”, “O teatro foi como eu comecei e estou até hoje, mas sou completamente apaixonada pelo audiovisual”, complementou a sua fala.

Michella começou sua trajetória com 13 anos de idade e fez um teste para um companhia de teatro quando morava em São Paulo, “E de lá pra cá não parei mais, tive momentos mais ativas e momentos menos, até que eu me profissionalizei nos anos 2000”. Ela também morou durante um tempo no Rio de Janeiro e foram mais de 30 espetáculos nesse tempo e participações em longas. “Tem um histórico bem grande até o momento”, fala Michella França.

Em seu caminho como atriz, Ligiane começou a fazer teatro em escola pública. Ela conta que o interesse começou quando uma professora de literatura estava montando um grupo de teatro para o festival estudantil da cidade que acontecia no Instituto de Educação, “Eu era uma menina de periferia que não sabia o que era teatro, daí eu me encanto e começo a gostar porque eu era uma pessoa super tímida… O teatro me deu possibilidade de ser quem eu sou e abriu muita possibilidade para mim. Eu gostei de estar no palco e contar uma história que não era minha, achei fantástico aquilo”. Depois, Ligiane se profissionalizou e fez diversos cursos na área, como o teatro de antropologia de Eugênio Barba. “Eu nunca paro, então essa é minha trajetória enquanto busca e artista. Sempre tive bons mestres e boas mestras que me forjaram para ser a artista que sou”, completou Ligiane Ferreira.

Por Bruna Sluzala

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