As oficinas aconteceram no XII seminário estadual do ECA, que teve como tema “vozes e diversidades”
Por Amanda Grzebielucka, Lorena Santana, Natalia Almeida e Pietra Gasparini
O XII Seminário Estadual do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) promoveu, na última sexta-feira (10), uma série de oficinas e debates voltados aos 35 anos do ECA, à diversidade e aos direitos das crianças e adolescentes. Com o tema “Vozes e Diversidades”, o evento foi sediado na UFPR Litoral, em Matinhos, e reuniu crianças, adolescentes, educadores e representantes de entidades que atuam na defesa dos direitos infantojuvenis.
A oficina Éticas para Pluralizar Infâncias e Adolescências: Intersecções de Gênero, Sexualidade, Raça e Classe na Convivência e Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes foi ministrada pelo pedagogo Guilherme Portela, formado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e doutorando em Educação pela mesma instituição. A atividade foi promovida pelo projeto de extensão NEPIA, Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assessoria sobre Infância e Adolescência, vinculado ao Departamento de Serviço Social da UEPG.
Durante a oficina, foram discutidas as interseccionalidades de gênero, sexualidade, raça e classe na convivência e garantia de direitos da infância e adolescência, mostrando que essas marcas produzem sentidos e geram efeitos concretos na vida das crianças. Portela ressalta que em uma rede que busca proteger crianças é necessário entender essas pluralidades das infâncias e adolescências, “ A gente fala de crianças como se todo mundo fosse igual e existisse do mesmo jeito, então quando a gente não fala de que crianças estamos falando, na verdade falamos da supremacia, das crianças brancas, das crianças classe média ou alta, das crianças sem deficiência”, afirma. O pedagogo destaca a importância de darmos nomes às coisas e de que pessoas brancas, hetero, cisgenero se reconheçam como tal. “ Quem é que tem o direito de se esquecer quem se é? Só as pessoas brancas, só as pessoas ricas, só as pessoas da supremacia. Todos os outros se lembram quem são cada vez que saem na rua, cada vez que tem que escutar e passar por opressões “.
Ao longo da oficina, Portela contou experiências e histórias que viveu enquanto pedagogo, que mostram a importância de entender essas interseccionalidades das crianças e adolescentes, e lembra que ele mesmo foi uma criança que fugia da “ universalidade”: “ na minha infância eu fui uma criança viada, o primeiro nome que deram a expressão do meu corpo foi baitola “. Ao final, foi promovido um debate entre os participantes, que compartilharam vivências com infâncias e adolescências diversas, reforçando a importância de discutir e aprofundar esse tema nas práticas cotidianas e nas políticas públicas voltadas à infância e juventude.
O NEPIA promoveu também a oficina Diversidade como Direito: Relações Étnico-Raciais, Gênero, Sexualidade e PCD, conduzida por Emilly Pinheiro Colman, Gabriel Valentini Drinko, Maryane Mackevicz, Luzbela Turshi Bida, Maria Clara Plem e Lio Eyherabid Araujo Silva. A proposta combinou momentos de vivência e reflexão sobre temas como racismo, LGBTQIA+fobia, machismo, capacitismo e adultocentrismo.
Entre as dinâmicas realizadas, o destaque foi o “Jogo dos Privilégios”, em que os participantes fechavam os olhos e davam passos à frente a cada afirmação vivida em suas trajetórias. O exercício evidenciou que ninguém compartilha as mesmas experiências e ajudou a compreender o conceito de interseccionalidade. Na sequência, os participantes foram divididos em três grupos temáticos: PCD, relações étnico-raciais e gênero e sexualidade, para analisar casos reais. Em cada grupo, discutiram como as diferentes formas de violência se cruzam, formando o que chamaram de “panelas de discord” e “bolhas extremistas”, numa reflexão sobre o perigo da internet e a necessidade de reconhecer como essas violências estão conectadas.
Juntamente com essa atividade, a oficina Essencial, porém Secundária: A Participação Infantojuvenil no Brasil integrou a programação e foi conduzida por Ingridy Aparecida Adriano, Mariana Camargo Teixeira, Julia Carolina Ferreira Lung e Raul Zainedin da Rocha. A proposta apresentou as diferentes formas de participação de crianças e adolescentes na construção de políticas públicas e na vida comunitária. Com dinâmicas interativas, os participantes foram convidados a identificar casos e relacioná-los aos tipos de participação existentes, discutindo quais formas consideravam mais efetivas e significativas. O exercício ressaltou a importância de reconhecer crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e como protagonistas de suas próprias histórias.
Outra oficina de destaque na programação foi A liberdade de expressão de crianças e adolescentes no ambiente escolar, conduzida pela rapper, atriz e poeta Liah Vitória, de apenas 12 anos. A jovem artista apresentou os quatro elementos do hip hop, o rap, o DJ, o grafite e o break e mostrou como essa cultura urbana pode ser uma ferramenta de resistência e de expressão.
Durante a atividade, as pessoas participantes foram divididas em grupos, escolheram nomes e produziram pequenas apresentações inspiradas no universo do hip hop: poemas, raps, performances e cartazes. As propostas eram voltadas principalmente a crianças e pré-adolescentes, estimulando a criatividade e o trabalho coletivo. Liah compartilhou sua própria história com a música, contando que começou a compor após sofrer racismo na escola, transformando a dor em arte. Sua primeira canção nasceu desse processo de enfrentamento, e uma das inspirações veio da música “Elevação Mental”, da artista Triz.
Além disso, Liah provocou reflexões sobre como a arte pode ser um espaço de escuta e liberdade, dialogando com as pessoas sobre cada etapa da oficina. No encerramento, todos os grupos se apresentaram, revelando o potencial transformador da expressão artística quando crianças e adolescentes são estimulados a falar e a serem ouvidos.