Quando nossa cobertura está sendo efetivamente crítica e não só espelho de um lado só?

O jornal Diário do Campos publicou, no período de 1 a 6 de outubro, 43 matérias em sua seção Cidades. Embora mais da metade do material seja das assessorias (26 publicações), as temáticas de gênero estão apagadas das matérias próprias do jornal que sempre busca colocar as fontes oficias em primeiro plano, sempre retratando-as através das entidades e órgãos que representam, excluindo a identidade da pessoa que repassou a informação. Por mais que das 20 fontes com identificadas com nomes, 12 sejam mulheres, elas encontram-se em papéis de contextualização, sendo apenas 4 como fontes principais vinculadas a órgãos oficiais. Enquanto há 10 fontes homens, apenas 2 deles exercem esse papel e os outros 8 representam posições importantes dentro da matéria.

O jornal abre o mês com uma publicação sobre o Outubro Rosa, já de praxe dos conteúdos essenciais ao jornalismo durante este mês. Entretanto apresenta um texto frio, sem aprofundamento do tema. São jogadas informações oficiais a respeito da realização do exame de mama, quantas são realizadas e as características da campanha que será realizada pela prefeitura. Mas em nenhum momento a matéria resguarda a fala de outras fontes que não estejam dentro de órgãos oficiais, desumanizando e criando uma estética engessada, o que transforma o material em mais uma notícia de campanha.

No dia 5 de outubro, o jornal ainda desperdiça caracteres quando realiza uma nota apenas com os dados atualizados de quantos exames já foram feitos. Recicla o lead e o sub lead da matéria do primeiro dia do mês e coloca outros dois parágrafos, com cerca de 4 linhas, com dados brutos e sem nenhuma fonte. Além disso, uma matéria do dia 4, apresenta a cobertura de um evento sobre o Outubro Rosa e a jornalista destaca no texto os principais pontos das palestras. Assim, vale ressaltar que em vez da enjoativa e precária cobertura, valeria um desdobramento fundamental sobre a vida da mulher na sociedade moderna e as diversas opressões que esta sofre, uma vez que estavam presentes uma ginecologista obstetra e uma advogada que comentou sobre as conquistas das mulheres.

Nesse âmbito é preciso se perguntar quando nossas apurações estão sendo abrangentes e alcançam um debate útil na sociedade. Devemos prestar atenção no direcionamento de nossos conteúdos e tentar coloca-los dentro de questionamentos. Nosso olhar dentro do jornalismo deve ser sempre crítico e detalhista, nossa obrigação é levar a esfera pública as situações que lhe cabem como interesse público, portanto não podemos deixar nossa apuração a mercê de poucas fontes que denotam os reforços de materiais sem aprofundamentos que sejam facilmente vendidos.  

Por João Pedro Teixeira

 

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta