A política do medo conserva o retrocesso

                                                                Por: André Luiz Lucas da Luz

“Põe a cara no sol” – esse bordão evidencia a expressão dos desejos sem esconderijos. Pessoas, devido às suas identidades sexuais ou de gênero, são destinadas ao que se entende como ‘margem social’: fora das escolas, expulsas de casas ou somente livres ao longo das noites, nas sombras e esquinas. As geografias guardam histórias de resistência silenciadas durante várias gerações, de gente que apenas buscava a felicidade como qualquer sujeito, porém só encontrava barreira aos anseios mais básicos. A partir das primeiras paradas de orgulho, no final do século XX, casais homolesbossexuais publicam o interesse em adotar uma criança e constituir uma família, de dar as mãos enquanto andam em um parque ou de demonstrar afeto entre si em uma praça. Cada um controla sua vida?

Atualmente, líderes religiosos proclamam as expressões da sexualidade como ‘modismo’ em seus palanques e ignoram a existência das pessoas. A diversidade, enquanto movimento, ainda demanda de muita conversa para crescer internamente pela troca de experiências e intersecções, mas se desgasta cada vez que precisa explicar que um possível ‘kit gay’ não é o maior problema do país. No entanto, toda a discriminação não impede que as drags alegrem as festas, com a desconstrução do binarismo ou que as travestis entrem na universidade para introduzir suas perspectivas. O indivíduo assexual para de reprimir sua condição quando abandona os costumes impostos, pois agora se sente completo. Em linhas gerais, o preconceito gera medo e, consequentemente, atrasos para barrar as conquistas.

Um grito que estava preso na garganta. “Ninguém me dá voz, eu já tenho voz”, canta em rap o grupo ‘Quebrada Queer’ na composição de Guido. Em 2018, o empoderamento está mais forte do que nunca. As mídias sociais proporcionam um espaço de diálogo enquanto também revelam a quantidade de discursos de ódio. De acordo com a ONG SaferNet, nos últimos 12 anos, as denúncias de homofobia online somaram 134.832 casos, com 30.950 páginas denunciadas por discurso discriminatório. A raiva prevalece e cria desconfiança até entre quem precisaria se apoiar. Esses embates ganham maiores proporções e dependem da posição incisiva contra a violência ao invés da imparcialidade exclusiva da imprensa.

Há algum tempo, pessoas transexuais não se identificavam em seus corpos desde a infância e não tinham canais para se expressar ou receber informações suficientes para se valorizar. Hoje, bissexuais conseguem encontrar conforto em suas relações sem pressas para escolher um ‘lado’ porque sabem que a sexualidade também é fluída. Isto é, há uma série de desafios bioéticos que são pouco discutidos e aprofundados, como as vivências de pessoas intersex, por conta do medo imposto por defensores de regimes autoritários. As próximas gerações perdem o embalo da jovem democracia em prol de escolas sem partido e das bancadas políticas religiosas. Contra os assassinatos a tiro e facas, espancamentos na rua ou sufocamentos dentro de casa, deve-se investir em uma cultura da paz e da educação.

A concepção de diversidade sexual e de gênero somente se aprimora com a visibilidade de discursos. As manifestações públicas tentam combater a ignorância, que interrompe vidas e esparramam sangue à toa em prol de uma cultura heteronormativa. Busca-se apenas o respeito aos sentimentos particulares com possibilidades infinitas. Ninguém escolhe amar uma pessoa do mesmo sexo quando se pode apanhar na rua por isso. Aliás, a sexualidade humana não condiz apenas com o ato sexual e se desenvolve através da informação, sem amarras ou métodos de ‘correção’. O conhecimento da alteridade humana não deixa de existir no momento que se realiza as campanhas da política do medo, mas caminha em passos mais lentos no que se refere a conquista de direitos pelo reconhecimento.

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