Das 26 Comissões Parlamentares do Paraná, 11 possuem ao menos uma representante mulher
No país, de 1826 a 2020 foram eleitas 266 mulheres para a Câmara dos Deputados, o que representa 3,5% de todos os deputados já eleitos. Em 2020 somente 15% das cadeiras são ocupadas por mulheres. No senado, apenas 14% dos senadores eleitos são mulheres.
No âmbito estadual, a Assembleia Legislativa apresenta uma situação ainda pior. Dos 54 deputados, somente cinco são mulheres, 9% das cadeiras ocupadas. Das 26 Comissões Parlamentares Permanentes, somente 11 possui como suplente ao menos uma mulher. A única comissão majoritariamente feminina é a Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres, que das sete cadeiras, cinco são ocupadas por mulheres.
A historiadora Michele Rotta, professora do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila em Ponta Grossa, explica que os direitos conquistados pelas mulheres se devem a lutas históricas. “Um ponto que devemos pensar é para quais mandatos eletivos as mulheres conseguiram participação. Isso está sempre atrelado à abertura democrática. Vejo que essa presença feminina envolve sempre um alargamento dos direitos democráticos, seja no sentido institucional por meio das constituintes ou até mesmo por meio de pressão da população civil”.
Michele ainda complementa que essa desigualdade pode ser maior se comparado com o fato de que que as mulheres são maioria na população. “Temos que começar analisando as mulheres no momento em que são vistas como sujeitos de direitos políticos ao longo desses dois séculos [dos anos 1800 a 2000]”. Para ela, a comparação entre o número de mulheres na população e o número de mulheres nos cargos legislativos tem que ser feita entre as próprias mulheres, para que se perceba o nível de participação nos cargos políticos até hoje. “Isso revela ainda mais a desigualdade se comparado com os homens, porque a população tem menos homens, mas eles são maioria nos cargos eletivos”.
A voz feminina dentro da política muitas vezes é deixada de lado ou vista como desnecessária. O preconceito sofrido por elas dentro de uma Tribuna varia da tentativa de coibição de fala a chamamentos. A deputada estadual Mabel Canto (PSC) relata um ocorrido de desrespeito que sofreu ao defender um projeto de lei destinado a benefício a mulheres. “Como em qualquer outro ambiente o fato de ser mulher nos coloca em segundo plano. Eu mesma já tive alguns embates na Assembleia e inclusive devido a um projeto de lei que beneficiaria mulheres. Na época eu tive uma discussão muito forte com o líder do governo, ele me chamou de hipócrita, então acho que o fato de ser mulher algumas vezes acaba gerando esse preconceito e essa discriminação, até porque é um ambiente predominante de homens”.
A luta por direitos das mulheres ganha espaço no Brasil e temas como aborto, maternidade, carreira e assédio têm ocupado amplo espaço de discussão na sociedade. A deputada Mabel Canto acredita que com mais mulheres na política há mais igualdade social. “A nossa demanda sempre vai ser por mais igualdade, por mais justiça para todos. Estendemos que temos competência para estar em todos os lugares na política”. Segundo a deputada, quanto mais mulheres na política, mais políticas sociais são criadas e é preciso avançar na defesa de direitos.
A professora Camilla Tavares, pesquisadora de comunicação política da Universidade Federal do Maranhão, explica que situações de desrespeito ocorrem devido à disparidade de gênero. “Sempre quando a mulher é mais assertiva, quando cobra, quando tem um posicionamento presente, ela acaba sofrendo com essas disparidades de gêneros e sendo colocada como descontrolada. Ela sofre preconceitos basicamente pela questão do gênero”.
A inserção de mulheres na política aumentou no Brasil. Em 2010 eram 45 deputadas na Câmara. No ano de 2014 o número aumentou para 51 e atualmente 76 cadeiras são ocupadas por mulheres. Ponta Grossa, pela primeira vez na história, elegeu três vereadoras e uma prefeita. Porém, além do aspecto da representatividade, é importante considerar o comprometimento com políticas de gênero.
A professora Michele Rotta considera que o aumento gradual da participação das mulheres é resultado de debates públicos. “Se pegar as últimas eleições no Brasil vemos bem o alargamento democrático, um quadro bem característico de regiões que elegeram mulheres”. Para ela, a existência de um debate mais aprofundado sobre a participação das mulheres na política se reflete nas urnas, “mas isso não diz que todas as mulheres na política são um standart da democracia”.
Mesmo a implementação da Lei 9504/1997, que indica a reserva de 30% das candidaturas dos partidos ou coligações para cada sexo no processo eleitoral, não contribui de maneira efetiva para diminuir a desigualdade de gênero. Segundo o ranking Global Gender Gap Report (Diferenças Globais entre Gênero), do Fórum Mundial de Economia, o Brasil em 2021 ficou no 89º lugar entre os países no que se refere à equidade de gênero.