Literatura indígena na educação com resistência, identidade e transformação de olhares

Oficina em Ponta Grossa discute a importância da produção literária indígena como ferramenta de afirmação cultural e decolonialidade no ensino, valorizando a diversidade dos povos e línguas indígenas do Brasil.

Por Leonardo Correia 

Debates sobre cultura indígena destacam a importância de práticas que promovam respeito aos povos originários. Foto: Leonardo Correia.

Segundo o censo do Instituto Socioambiental, há no país 278 povos indígenas e 150 línguas diferentes. Mas é difícil precisar o número exato, porque há grupos que atualmente estão em processo de retomada, isto é, passando a se autodeclarar indígenas, uma vez que tiveram suas identidades negadas e assassinadas, como os grupos existentes no Nordeste.

A reportagem do Jornal da USP, “literatura indigena atual torna visível aquele que a história tornou invisível social e politicamente”, traz que hoje, mais de 30% dos originários brasileiros com fenótipo indígena ainda visível vivem nas cidades, representando cerca de 300 mil.

Foi a partir desse contexto que, na sexta-feira passada (12), aconteceu a oficina “Literatura Indígena: Narrativas para Transformar Olhares na Educação” na Escola Cel. Cláudio, em Ponta Grossa. A oficina integrou o 12º Congresso Educação em Movimento “Tempo de criar, inovar e transformar” que aconteceu de 09 a 12 de setembro e contou com a participação de professores e professoras das instituições de ensino da cidade. A atividade discutiu como a produção literária se torna ferramenta de resistência e afirmação cultural.

Produção literária indígena é ferramenta de decolonialidade, diversidade e protagonismo cultural na educação. Foto: Leonardo Correia

A palestra ministrada pela professora Bruna Caroline Machado, apresentou o tema Decolonialidade e como aplicar tal teoria no modo literário de ensino em sala de aula se afastando de estereótipos “Para unir literatura indigena em sala de aula de forma decolonial, é preciso ir além da representação folclórica e valorizar o protagonismo dos povos originários no nosso país.”, comentou a palestrante.

A professora resgatou a história e pontuou que a primeira política de educação indigena foi a catequização por parte dos jesuítas impondo as línguas europeias, colonizando a cultura originária. Ela também destacou que o primeiro documento a assegurar a educação indígena foi a Constituição Federal de 1988, que reconheceu a importância da identidade cultural e dos processos próprios de aprendizagem desses povos.  A inclusão na Constituição é fruto das lutas dos povos originários. Em 1987, Ailton Krenak pronunciou na Assembleia Nacional Constituinte (em 4 de setembro) um discurso histórico em defesa dos direitos dos povos indígenas, no qual, vestido com terno branco, pintou o rosto com tinta de jenipapo como forma de protesto contra o retrocesso nos direitos indígenas. 

A valorização da cultura indígena se consolida como tema central na educação, reforçando a pluralidade e identidade. Foto: Leonardo Correia

Da mesma forma, os movimentos indígenas continuaram pressionando por reconhecimento dos seus direitos e outras normas vieram detalhar e regulamentar esse direito, como o Decreto nº 26/1991 e o Decreto nº 6.861/2009, que estabeleceram diretrizes para uma educação escolar indígena diferenciada, intercultural e multilíngue. Já a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira no ensino fundamental e médio, tanto em escolas públicas quanto privadas. Essa lei ampliou a Lei nº 10.639/2003 e busca valorizar a diversidade cultural brasileira, reconhecendo a contribuição dos povos originários e africanos para a formação da sociedade nacional. 

Após a fala, Bruna logo passou para a primeira parte prática da oficina, que consistia em ler um fragmento de um livro de algum escritor indigena e responder algumas questões. As professoras Angela Maria Ferreira, Sabrina Ramos Santos e Patricia Siqueira, ficaram com o fragmento do livro “Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória”, de Daniel Munduruku. Na obra, ele relata suas experiências e lembranças de quando criança na tribo em que vivia. As professoras então expressaram como poderiam trabalhar este fragmento em sala de aula “perguntar para os alunos como é diferente a realidade dos povos indígenas da nossa e quais costumes dentro do texto se comparam com a rotina deles, como reunirem a família para contar histórias”.

A professora Ana Paula Soares, atua na escola Ecléa dos Passos Horn e leciona para a turma do 3º fundamental. Ela participou da oficina e compartilhou sua visão sobre abordar o assunto em sala: “é uma necessidade urgente porque nos sentimos reféns das teorias e literaturas anteriores que não trazem a verdadeira história e nem as nossas raízes de ancestralidade”. A professora se intitulou “curiosa por natureza” por já trabalhar parte dos conteúdos apresentados e comentou que sua intenção a partir dessa formação é buscar outras literaturas para trabalhar com seus alunos.

Entre as dicas, o artigo Mapeamento de Escritores Indígenas na Literatura Brasileira Contemporânea de Roní Lopes Nascimento expõe a distribuição dos povos/etnias indígenas como lugar de origem dos escritores indígenas: 

Balatiponé Umutina (4%); PiráTapuya Waíkhana (4%); Desana (4%); Guarani Mbyá (4%); Kurã Bakairi (4%); Sateré Mawé (4%); Wapichana (7%); Munduruku (7%); Maraguá (11%); Macuxi (7%); Tabajara (4%); Kariri Xocó (4%); Puri da Mantigueira (4%); Pataxó (4%); Potiguara (4%); Krenak (4%); Guarani (4%); Kaingáng (4%); Terena (4%); Kaiwá (4%); Kaiapó MebêngôKre (7%).

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