A literatura infantil desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Além de estimular a imaginação e a criatividade, os livros voltados para o público infantil são importantes ferramentas educacionais que ajudam a construir valores e hábitos desde os primeiros anos de vida. Em uma era marcada pela digitalização, em que o tempo de tela é muitas vezes predominante, os livros se destacam como alternativas que oferecem, além de aprendizado, um momento de interação afetiva entre pais e filhos.
Durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a escritora e ilustradora de literatura infantil, Dorothy Rooma, trouxe à tona uma reflexão sobre o impacto de suas obras na relação entre adultos e crianças. A autora lançou duas coleções voltadas para o público infantil, destacando a importância dos livros como mediadores dessas relações.
“A coleção ‘Teodoro Adora’ tem dois eixos: hábitos saudáveis; e sociedade e cultura. Na parte de hábitos saudáveis, o Teodoro adora comer frutas, verduras, tomar sucos, escovar os dentes e muito mais. Já na coleção focada em sociedade e cultura, temos o Teodoro explorando o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e as brincadeiras infantis de antigamente”, explicou Dorothy, ao falar sobre seus personagens e a missão por trás das histórias.
O conceito de seus livros vai além do simples entretenimento. A autora reforça que sua proposta tem um viés educativo voltado para a interação familiar, promovendo uma “materialidade para as relações parentais”. A ideia é criar momentos de troca entre adultos e crianças, usando a leitura como um elo que ajuda a suavizar as tarefas diárias, como a hora de comer ou de escovar os dentes.
Outro personagem central nas coleções da criadora é o gatinho Aderbal, que tem como missão ensinar de forma lúdica noções espaciais e temporais às crianças. “Aderbal circula pelo ambiente doméstico e, com ele, as crianças aprendem noções de localização, como atrás, em cima, ao lado. Ele ensina adjunto adverbial de lugar de forma lúdica e acessível”, explicou a autora. Além disso, o livro “É Hora de Fazer o Quê?” ensina a leitura das horas, tanto no formato analógico quanto no digital, promovendo uma experiência de aprendizado ativa e divertida.
A função da literatura infantil vai muito além de estimular a imaginação. Ela ajuda a criança a desenvolver habilidades sociais, reforçar hábitos e estabelecer uma conexão com a cultura. Em histórias como a de Teodoro, por exemplo, os pequenos são incentivados a adotar uma alimentação saudável, enquanto são introduzidos a aspectos culturais, como visitas a museus ou o resgate de brincadeiras tradicionais. Através de personagens que cativam, as histórias se tornam acessíveis e significativas, permitindo que a criança absorva conhecimento de forma leve.
Um aspecto interessante trazido por Rooma é o uso do Teodoro de pelúcia como um “apaziguador” na relação entre pais e filhos. Segundo a autora, o personagem pode ajudar a mediar momentos de conflito ou resistência em tarefas cotidianas, como tomar banho ou comer. “Às vezes, a orientação que os pais precisam dar pode parecer um pouco chata para as crianças. Mas o Teodoro pode intermediar essa relação, suavizando o momento e tornando-o mais lúdico”, afirma a autora.
Essa triangulação proposta pela escritora ilustra como os livros infantis podem ser utilizados não apenas como uma fonte de conhecimento, mas também como um meio de fortalecer os laços familiares. Ao transformar tarefas diárias em aventuras compartilhadas entre os personagens e as crianças, as histórias promovem um ambiente de colaboração e compreensão dentro do lar.
A literatura infantil contemporânea, como demonstrado pelas coleções de Dorothy Rooma, vai muito além de narrativas de entretenimento. Ela atua como uma poderosa ferramenta de construção emocional e cognitiva, permitindo que as crianças não apenas aprendam novos conceitos, mas também reforcem laços afetivos com seus pais ou cuidadores. Essa interação fortalece o papel do livro como um elo essencial no desenvolvimento das novas gerações.
Os livros para crianças são, portanto, mais do que simples histórias. Eles ensinam, conectam e apaziguam. Como os personagens de Dorothy Rooma, que servem de intermediários para suavizar relações, a literatura infantil pode ser o fio que une aprendizado e afeto, criando memórias duradouras e contribuindo para uma formação integral das crianças. Em tempos de tecnologia, o retorno ao livro impresso se torna uma oportunidade para fortalecer as relações humanas, proporcionando momentos únicos de troca e aprendizado mútuo.
Por Maria Gallinea