Maternidade na dança: mudanças físicas e emocionais

Ser mãe abre oportunidade para ver a dança a partir de uma nova visão

Ester Roloff

 

 O mundo da dança envolve dois campos distintos, o do esporte e o da arte. Essa característica influencia não apenas a saúde física, mas mental e emocional dos bailarinos e bailarinas. Relatos de mulheres que vivenciaram a maternidade no mundo da dança e sentiram no corpo e na rotina as mudanças que vêm com a nova vida como mãe, são registros importantes para compreender essa realidade vivida.

Foto: Juliane Goltz.

 Helen Jansen, de 31 anos, iniciou na dança aos 16 anos, e com 22 anos teve sua primeira filha. Ela fez aula de balé avançado e deu aulas grávida para uma turma de baby class. Com o nascimento da filha, Helen ficou sem dançar e lecionar por cinco meses, mas foi na gravidez da segunda filha que a situação foi mais difícil. “Eu já estava ensaiando para um espetáculo, já tinha comprado o figurino e tive que parar de dançar por ter um descolamento de placenta e por conta disso demorei a retornar” relata. 

 A dança ajuda a mãe no processo de cura e controle emocional. “Eu não consigo ficar sem a dança hoje, faz toda a diferença para o meu emocional”, conta Helen. Ela comenta como foi importante a dança para voltar a se conectar com o próprio corpo. “Quando temos filhos, a gente se descobre uma nova mulher, então não é mais sobre mim. É quando eu danço que me reconecto comigo mesma, com a minha própria identidade”, aponta.

 Para Helen, quando uma mãe tem a intenção de voltar ou iniciar uma jornada na dança é preciso se planejar mais do que quando não se tem filhos. O processo foi difícil para a dançarina que precisou se adaptar ao seu novo corpo após a maternidade. “Eu escolhi o jazz dance para voltar a dançar, porque eu não me identifico mais com o ballet anatomicamente, apesar de amar o ballet clássico o meu corpo não responde mais a ele”, afirma.

 Glaucia Staveski, de 50 anos, era baliza da comissão de frente da banda marcial de Ponta Grossa quando mais nova e sempre gostou de dançar, mas entrou de fato para o mundo da dança há 7 anos. “Eu sempre amei a dança, então quando minha filha com quatro anos mostrou interesse em balé eu fiquei muito feliz”, lembra. A filha de Glaucia continua a dançar até os dias de hoje, e quando estava com 15 anos, convidou a mãe para fazer aulas na escola que praticava. “Tinham sido abertas aulas de jazz iniciante para adultos, eu vi como uma oportunidade para realizar meu sonho de dançar”, conta.

 A mãe relata as dificuldades que teve ao tentar acompanhar as exigências físicas das aulas de dança. “A turma para adultos encerrou pela falta de alunos depois de um ano, então continuei treinando com uma turma iniciante de meninas mais novas, foi difícil”, lamenta. Ela relata que com o tempo aprendeu a respeitar mais o próprio corpo e a não se comparar com o ritmo dos outros. “Eu danço para ter um momento para mim, porque eu amo, não para ser uma bailarina profissional”, afirma.

 Glaucia relembra feliz os espetáculos de balé que dançou com sua filha. “Ter ela me apoiando e tendo tanto orgulho de mim quanto eu tenho dela foi muito importante para me incentivar a continuar”, conta. Ela fala que ser mãe foi o que a conectou com a dança e agora ambos são partes essenciais em sua vida. “Enquanto eu puder vou continuar dançando, e de preferência, com minha filha ao meu lado no palco”, finaliza.

 Sara Freitas, de 30 anos, iniciou sua trajetória na dança aos 25 anos, antes disso não dançava em uma frequência mais intensa. Ela foi professora de educação infantil por oito anos e diz ter grande amor por crianças. Sara não é mãe, mas planeja engravidar em um futuro próximo e tem certeza que isso vai influenciar sua rotina de dança e adaptação incerta com o corpo pós parto, “O corpo muda completamente, existe uma adaptação tanto na rotina da criança como também uma adaptação com o corpo”, comenta Sara.

 A dançarina se preocupa com o futuro, em como pode ser o retorno na dança. “Isso me assusta bastante, porque dançar para mim é algo muito importante, então pensar em parar de dançar, dar uma pausa sabe se lá de quanto tempo, e viver essas mudanças, é um pouco assustador”, lamenta. Sara sente que tem adiado a gravidez por conta de sua relação com a dança, mas afirma que mesmo após ter a criança, vai continuar a dançar. “Eu sei que vou voltar a dançar, talvez não na mesma frequência como agora”, finaliza.

 A dança na gravidez possui vários benefícios, como a oxigenação e a circulação sanguínea, ajudando tanto a mãe quanto o bebê. No pós-parto ela ajuda na recuperação do corpo e na reeducação do sistema musculoesquelético da mulher, aém de promover o retorno à vida social, trazendo momentos de diversão e conexão, e melhorar a saúde mental e autoestima das bailarinas.

Foto: Juliane Goltz.

 

 

 

 

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