Palestra expôs como desigualdades sociais impactam na vivência de cada indivíduo
Amanda Rafaella e Pietra Gasparini
O início da 19° edição da Semana de Integração e Resistência, organizada pelo Centro Acadêmico João do Rio (Cajor), do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ficou marcado pelo painel “Vivências veladas e consciência de gênero no ambiente institucional”. A palestra foi ministrada pela professora e pesquisadora do departamento de Educação da UEPG, Marcela Teixeira Godoy, e aconteceu no Grande Auditório do Campus Central.
Com uma dinâmica reflexiva, a professora trouxe questionamentos ao público sobre gênero e preconceitos como racismo, LGBTfobia, machismo, adultismo e aporofobia. Durante a sua fala, a palestrante exemplificou a ideologia de que todos partem de pontos diferentes e que há uma subjetividade em cada um que deve ser levada em conta.
A palestrante trouxe o conceito de interseccionalidade segundo a pesquisadora da teoria crítica de raça, Kimberlé Willams Creenshaw, que define o termo como a sobreposição entre diferentes marcadores sociais, explicando que nós não somos somente mulheres, ou homens, mas também transsexuais ou cis, ou idosos que se encontram em determinada classe social, então terão diferentes formas de opressão que se sobrepõem. Nesse sentido, a violência contra a mulher também ganha sobreposições. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 63,6% das vítimas de feminicídio são mulheres negras. A pesquisadora explicou também que a violência que uma mulher negra sofre é mais acentuada, e é diferente da sofrida por uma mulher branca.
Segundo dados da pesquisa “Percepções dos Homens sobre a Violência Doméstica contra a Mulher”, realizada em 2013 pelo Instituto Data Popular, ao serem perguntados se já cometeram violência contra mulher, 16% dos homens assumiram que sim. Já ao mudarem a forma de perguntar para: “Alguma vez você xingou, empurrou, ameaçou, deu um tapa ou um soco, humilhou em público, ou a obrigou a fazer sexo?”,o índice foi de 56% dos homens que responderam afirmativamente. Isso exemplifica a violência velada que é aquela que nem sempre é vista como violência, e que foi trabalhada pela palestrante. Uma das formas de violência e preconceito velado é a diferença de tratamento entre mulheres e homens no dia a dia. “Se você não faria essa pergunta para um homem, por que você faz para uma mulher?”, questiona a professora instigando os participantes a refletirem como esses aspectos estão dentro de cada um e precisam mudar.
Godoy também trabalha os termos Decolonizar e Contra-colonizar, noções que estão juntas, mas não significam a mesma coisa. A professora explica que a decolonidade é o reverter os efeitos deixados pela colonização, já o contra-colonializar é o contrariar o colonialismo e as práticas deixadas por ele, e é o movimento feito por quem não foi colonizado. A discussão vai além do descolonizar coletivo, mas abrange também o individual. A professora explica: “Nosso pensamento é colonizado e a gente vai aos poucos se desfazendo dessa trama”. Durante toda sua fala, a pesquisadora explicou como o subjetivo está em todas as áreas, e que todo discurso tem uma cor, um gênero e uma posição social.