Piquenique reúne famílias em comemoração ao Dia Nacional da Adoção

O evento celebrou a data e reforçou a importância dos vínculos familiares formados por meio da adoção

Natalia Almeida

 

 No último domingo (25), cerca de 25 famílias se reuniram no Parque Monteiro Lobato para o primeiro piquenique “Famílias formadas pela adoção”. O evento faz parte da programação da VII Semana de Adoção do Judiciário do Paraná e foi promovido pelo Núcleo de Apoio Especializado/Vara da Infância e da Juventude de Ponta Grossa (NAE/VIJ), em comemoração ao Dia Nacional da Adoção.

 

Famílias se reúnem para celebrar vínculos formados a partir da adoção. Foto: Natalia Almeida.

 A  lei que decreta o Dia Nacional da Adoção foi sancionada em 2002 e busca reforçar a importância do ato de adotar, conscientizar a população sobre o tema e dar visibilidade aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é dever da família, da sociedade e do Estado garantir esses direitos e a nova lei da adoção assegura a prioridade de conviverem no ambiente familiar, usufruindo de todos os seus direitos. 

 Segundo informações divulgadas pela assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel, Ponta Grossa possui uma fila com 176 pessoas que desejam adotar e 17 crianças estão aptas à adoção. Dessas, quatro são adolescentes entre 12 e 17 anos.

Processo de adoção

 O processo de adoção envolve uma série de etapas. A assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel, explica que o primeiro passo é procurar a Vara da Infância e apresentar a documentação necessária exigida – Segundo o Ministério Público do Paraná os documentos que você deve providenciar são: identidade; CPF; certidão de casamento ou nascimento; comprovante de residência; comprovante de rendimentos ou declaração equivalente; atestado ou declaração médica de sanidade física e mental; certidões cível e criminal. Depois disso, inicia-se o processo de habilitação. “Esse processo vai ser formado, a juíza vai determinar que seja realizado um estudo social e a avaliação psicológica dos pretendentes”, esclarece. Em seguida, a habilitação dos pretendentes será deferida e eles serão inseridos na fila de adoção. “Existe a lista local da cidade e também o cadastro nacional de adoção, no qual eles serão cadastrados, e aí é só aguardar o tempo de espera”, afirma. Sequinel ressalta que o tempo de espera varia de acordo com o perfil escolhido pelos adotantes, e o mais procurado é o de crianças pequenas de zero a cinco anos. De acordo com ela, o tempo de espera varia em torno de cinco anos na cidade. 

 Durante todo o processo, também acontecem os encontros preparatórios com o Grupo de Apoio à Adoção Necessária (GAAN), com o objetivo de acompanhar as famílias que desejam adotar. O grupo trabalha em parceria com o Tribunal da Justiça e promove encontros tanto com os pretendentes que estão iniciando o processo de adoção, quanto com os que já estão habilitados e com os que já adotaram.

 Quando os adotantes chegam ao topo da lista e há uma criança apta para ser adotada, é passado o histórico da criança e eles vão dizer se querem ou não adotar. “Aí inicia o processo de adoção, a gente entrega a criança e realiza o acompanhamento posterior para garantir que esse processo dê certo, fazemos os encaminhamentos necessários até que a adoção se concretize”, conclui Jucelaine.

Assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel e suas estagiárias. Foto: Natalia Almeida.

 

A romantização da adoção e a expectativa do filho ideal 

 O presidente do Grupo de Apoio às Adoções Necessária (GAAN), Rodrigo Figueiroa, fala que desmistificar a romantização da adoção é um dos principais pontos trabalhados nos encontros preparatórios. De acordo com ele, muitos casais ou adotantes solos chegam até lá com o filho dos sonhos idealizado. “Muitos chegam com o pensamento de que vão adotar a criança loira de olho azul e sem nenhum problema de saúde”, relata. O presidente da entidade explica que o objetivo é retirar essa visão da criança perfeita e mostrar a realidade. “O processo de adoção é bem longo e burocrático, e a gente acredita que realmente deve ser, para evitar de acontecer a questão da devolução”, afirma. Segundo ele, os encontros são essenciais para os adotantes tirarem todas as dúvidas, e chegarem ao final do processo com a certeza de que é isso que eles querem. “O objetivo do GAAN  é ajudar os pretendes a fazer com que a adoção realmente se concretize e que seja constituída mais uma família a partir dali”, finaliza Figueiroa. 

Presidente do Grupo de Apoio às Adoções Necessárias, Rodrigo Figueiroa à esquerda. Foto Natalia Almeida.

 Pais de uma criança de cinco anos, Nilceia e Alex Wrobel falam sobre a importância do processo preparatório para a adoção. “É necessário entender que você não está fazendo caridade. É um filho. E filho não é só alegria, existem custos, despesas, brigas e precisa cuidar, mas é gratificante”, ressalta o pai. O casal adotou o filho com dez meses, após quase cinco anos na fila de espera. 

 Eles contam que quando a criança tinha cerca de um ano e meio, começaram a perceber comportamentos como o atraso da fala e a falta de interação. Os pais seguiram a orientação do pediatra em aguardar para observar como seria o desenvolvimento da criança no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI). Depois de constatarem que os comportamentos persistiam, iniciaram com o processo de investigação e, aos dois anos, a criança foi diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).  “E aí vem a importância de você estar bem preparado, fazer todos os encontros, preparar o psicológico, o bolso, e não criar expectativas”, afirma a mãe. 

 Os pais reforçam que é essencial não criar expectativas do filho ideal, porque o que existe é o filho real, independente de ser adotivo ou biológico. “É por criar essa expectativa que acontecem as devoluções das crianças, porque chega nesse processo e acontece o luto, a decepção e a pessoa não está preparada para isso”, diz a mãe. Os pais contam que após o diagnóstico iniciaram as intervenções necessárias e hoje o filho fala, interage, lê e adora tecnologia.  

Nilceia e Alex Wrobel com seu filho, atualmente com cinco anos. Foto: Natalia Almeida.

 No Brasil, a devolução de uma criança após o processo de adoção ter sido finalizado é ilegal, conforme estabelece o ECA. Porém, durante o processo de convivência, antes do processo ser finalizado, dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que os registros de devoluções somam 8,9% das adoções entre os anos de 2019 e 2024.

 

Adoção tardia

 O casal Elizabete de Lima e Vladimir Danilenko contam que, antes de adotar, participaram do “família acolhedora”. Trata-se de uma medida protetiva excepcional e provisória, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para crianças e adolescentes que precisam ser afastados de sua família de origem. Nessa modalidade, a criança e/ou adolescente é cuidada  temporariamente por uma família acolhedora que, durante o período de acolhimento, assume todos os cuidados.

 O casal abrigou em sua casa três meninos, de quatro, sete e 12 anos, e foi a partir disso que enxergaram a necessidade e importância de adotar crianças mais velhas. “A partir de uma certa idade eles vão ficando de lado. Têm adolescentes de 14 anos esperando por uma adoção, e é bem complexo, porque quanto mais velhos, menos chance eles têm de ser adotados”, afirma Elizabete.

 Depois de seis meses na fila de espera, Elizabete e Vladimir conseguiram adotar um casal de irmãos, ela com oito anos na época e ele com quatro. A mãe conta que no início o processo de adaptação é mais difícil. “Meu menino logo de início já se apegou com meu marido, mas minha menina era mais afastada, não conversava muito comigo e falava mais com o meu marido, aos poucos ela foi se soltando”, relata. Este processo é individual de cada criança, pois cada uma delas possui sua história e seu tempo de adaptação. A mãe reforça a importância de valorizar a história dos filhos e de conversar sobre isso com eles. “Eu sempre tento fazer com que eles valorizem a história deles, para que eles enxerguem que foi através disso que eles chegaram até mim, foi a partir da mãe biológica que hoje eu tenho eles”, afirma. 

Elisabete de Lima e Vladimir Danilenko com seus dois filhos, atualmente com 15 e 11 anos. Foto: Natalia Almeida.

Serviços 

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NAE (Núcleo de Apoio Especializado)

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Gabinete da Magistrada:

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