No mês do Orgulho, eventos são realizados em Ponta Grossa promovendo debates, arte e a visibilidade das lutas pelos direitos LGBTI+
Por: Alex Dolgan e Camila Souza
No mês do Orgulho LGBTI+, a cidade de Ponta Grossa avançou no debate e no reconhecimento dos direitos da comunidade. A cidade contou com eventos que promoveram a arte e a cultura do movimento LGBTI, visibilidade para a diversidade e debates acerca dos direitos dos LGBTI, destacando a luta pela garantia desses direitos. Os eventos foram o Cine Debates com a exibição do documentário “Falas de Orgulho”, apresentação de drag queens com o “Show Holofotes” e outros eventos dos movimentos sociais.
A advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos LGBTI de Ponta Grossa (CMLGBT), Thaís Boamorte, acredita que a inserção da causa em políticas públicas tem feito a diferença, trazendo resultados positivos. “A nossa cidade é extremamente conservadora, porém também é visionária em outro aspectos. Ponta Grossa foi a primeira cidade a ter um conselho municipal voltado à temática LGBT. E também a primeira a ter uma comissão da diversidade sexual de gênero da OAB”. Essas iniciativas são importantes para promover a inclusão e garantir a representatividade da comunidade LGBTi+.
Para Guilherme Portela, ativista do movimento LGBTI+, existe a necessidade de reinventar o mês do orgulho, abraçando as novas lutas e demandas do movimento LGBTI+. Ele ressalta que os corpos devem ser livres para construírem suas vidas, sem serem tratados como algo escondido, criminoso ou patológico, mas sim com amor e acolhimento. “Antes esses momentos eram calados e escondidos, agora as lutas passadas são essenciais para termos eventos como estes sem repressão, sem precisar ficar escondidos”, afirma o ativista. Portela enfatiza que eventos como os realizados em Ponta Grossa são essenciais para dar visibilidade e fortalecer a comunidade.
Uma das iniciativas foi o evento “Cine Debate”, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Ponta Grossa. O documentário “Falas de Orgulho” foi exibido, seguido de um debate sobre a representatividade dos corpos LGBTI e suas lutas por respeito. No dia 28, em comemoração ao Dia do Orgulho, um espetáculo de drag queens intitulado “Holofotes” foi realizado no Centro de Cultura de Ponta Grossa. Com todos os ingressos vendidos, as arrecadações obtidas com o evento foram destinadas aos cachês das performers, valorizando a arte drag. Além disso, foi disponibilizado um ônibus gratuito para levar os moradores de Ponta Grossa à 6ª Marcha Pela Diversidade, que ocorreu em Curitiba no dia 25.
A noite do Show Holofotes também serviu como uma oportunidade de informação para quem estava lá. Neste evento foi lançada uma cartilha desenvolvida pelo conselho. A cartilha, entregue pelo conselho, tem o objetivo de desmistificar conceitos e fornecer informações para as pessoas sobre a comunidade LGBTI+. A presidente do conselho ressalta que a conscientização é essencial para combater a LGBTfobia.
Layla Barbosa, uma mulher lésbica, compartilhou sua visão sobre o orgulho. Para ela, o orgulho vai além das siglas e representa a liberdade de ser quem se é e amar quem se deseja. “Ter orgulho é ser. Esse ser é o reconhecimento para além de uma sigla, é pelo o que eu amo e pelo o que eu faço. Esse é meu orgulho”. Ela acredita que eventos como os realizados em Ponta Grossa são fundamentais para que as pessoas possam compreender que o preconceito mata e que o amor está presente em todas as formas de identidade.
LGBTfobia em Ponta Grossa
Mesmo que com legislação e políticas públicas que prezam pela igualdade e o respeito à diversidade, a LGBTfobia ainda se mostra como um desafio a ser superado. No ano de 2022, Ponta Grossa ficou em quarto lugar entre as cidades do Paraná com o maior número de denúncias de LGBTfobia por habitantes. A cidade registrou 56 casos no período de janeiro a novembro de 2022, o que equivale a 0,15 por mil habitantes. No entanto, é importante destacar que nem todas as agressões à comunidade LGBTI+ são registradas oficialmente.
Dados divulgados via e-mail pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) mostram que, em 2022, o número de ocorrências envolvendo homofobia e transfobia caiu no estado. Em 2021, foram registradas 1.560 ocorrências no total. No período de janeiro a novembro de 2022, o número decresceu para 1.382. Entretanto os números podem não corresponder com a realidade da violência LGBTI+ na cidade como destaca Thaís Boamorte, “A violência deve ser maior do que mostram os números. Dependemos dos critérios da Sesp para registar esses boletins, dessa forma, existe uma alta subnotificação mesmo que a LGBTfobia seja equiparada ao crime de racismo”.
Como denunciar?
É importante que as vítimas de LGBTfobia saibam como denunciar. A ocorrência pode ser realizada em qualquer delegacia, não sendo necessário ser uma delegacia específica de crimes de LGBTfobia. Quando os crimes são cometidos com o uso da internet, é possível fazer a denúncia no site SaferNet, sendo necessário que a vítima salve as mensagens para comprovar o crime. Casos envolvendo mulheres travestis, transexuais e intersexo podem ser atendidos nas delegacias especializadas de atendimento à mulher.
As denúncias também podem ser realizadas pelo Disque 100, especificamente na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. No caso de mulheres LBTI, a denúncia pode ser feita pelo Disque 180, recorrendo à Lei Maria da Penha. Esses serviços funcionam 24 horas por dia, nos sete dias da semana, incluindo feriados, e a ligação é gratuita.
Imagens: Alex Dolgan