Rodas de conversa: um lugar seguro para a troca de experiências maternas

As rodas são uma das contrapartidas previstas pelo projeto do livro “Mamãe é um montão”, financiado pela Lei de Incentivo à cultura Aldir Blanc 

                                  Por Lorena Santana e Natalia Almeida

   

 No último dia 04, aconteceu a roda de conversa “Maternidade: desafios enfrentados no cotidiano”, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A ação foi organizada por estudantes do terceiro ano de Serviço Social da UEPG e fez parte das contrapartidas do projeto que deu origem ao livro “Mamãe é um montão“, de autoria de Carina Dias e financiado pela Lei de Incentivo à Cultura Aldir Blanc, que exige que artistas contemplados por editais públicos realizem atividades de retorno à comunidade. O evento aconteceu no período noturno e foi aberto ao público.

 Carina conta que a ideia do livro surgiu de forma despretensiosa a partir do desejo de compartilhar suas próprias experiências com a maternidade. “Para mim, a maternidade é algo muito pulsante, então escrevi o livro e enviei para algumas editoras, e no meio do caminho surgiu o edital do Aldir Blanc, montei um projeto e passei em primeiro lugar”, relata. 

 A autora destaca que entre as atividades previstas pelo projeto está a distribuição gratuita dos livros. Ela ressalta a importância desse acesso à comunidade e pessoas que não teriam condições de realizar a compra. O lançamento do livro está previsto para julho, no SESC Estação Saudade, e a agenda de contrapartidas, com as rodas de conversa sobre maternidade, continua até setembro.

A roda

 Dentre os assuntos que surgiram na roda, a sobrecarga materna e a falta de rede de apoio tiveram destaque durante a conversa. A saúde mental materna é ainda ignorada pela sociedade e não recebe a atenção necessária, como pode-se observar a partir dos relatos da matéria “Invisibilidade da Saúde Mental Materna”, que foi produzida pelo Elos em junho de 2024. 

 Carina Dias define os momentos de reunir mães em uma roda de conversa como um respiro diante do caos. “É necessário que grupos que vivem os mesmos desafios se encontrem e compartilhem suas vivências. Existem situações que por mais apoio que essa mulher tenha, por mais companheira que seja a pessoa que está do lado dela, só outra mãe vai entender”, declara. 

 De acordo com a professora de yoga e participante da roda, Bianca Kotviski a romantização da maternidade adoece as mulheres e esse fardo é imposto a elas todos os dias. Em rodas de conversa, ela diz que consegue derrubar essas fantasias e contemplar uma maternidade real. “Às vezes, a mãe se sente um monstro por estar encarando determinado sentimento e quando ela ouve outra pessoa que também passa por isso, ela se identifica e não se culpa como antes”, afirma.

 A segurança do trabalho, Erika Camargo, também integrante da roda, um peso muito grande na trajetória da maternidade são os palpites. “Depois de encarar diversas intromissões em relação ao meu maternar, esse lugar de acolhimento, longe de julgamentos, faz toda a diferença e renova a vontade de resistir e seguir com a criação das minhas filhas da maneira que eu acredito”, diz. 

 A mãe e doula, Juliane Carrico, esclarece que esse movimento de rodas de conversa acontece com bastante frequência e é promovido por diversos grupos, tanto na região central de Ponta Grossa como em variados bairros da cidade. Ela faz um apelo para que as mães fiquem atentas e compareçam. ”O peso da maternidade é grande e quando isso não é dividido, acaba explodindo. Essa troca e compartilhamento de experiências proporciona um sentimento de companhia e pode tornar essa caminhada mais leve”, defende Juliane. 

 

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