Sandriane Pankará: Mãe, Líder Jovem e Professora

Uma tentativa de escrever um perfil jornalístico à distância

 

Acho importante destacar que esse perfil aconteceu à distância, em uma conversa virtual realizada via chamada de vídeo, então talvez alguns detalhes – que só são possíveis notar na presencialidade – tenham ficado de fora. Mas me comprometo aqui, que por meio das minhas pesquisas e entrevistas, traçarei um perfil fiel à figura de Sandriane Pankará. Marcamos a chamada para uma noite de quinta-feira, porque ela trabalha como professora durante o dia. O clima aqui no Paraná era de frio e geada, enquanto do outro lado da tela, presenciava uma noite fresca e úmida no interior de Pernambuco.

Gostaria de começar apresentando Sandriane com as três características que ela gosta e costuma usar para descrever ela mesma: Mãe, Líder Jovem e Professora. “Eu acho que é importante a gente dizer o meio em que estamos vivendo. Eu sou mãe, líder jovem e professora. É importante frisar que eu vivo isso no meu cotidiano”, comenta com tom de orgulho e também de reivindicação sobre a sua trajetória. Sandriane Lourenço, 26 anos, conhecida como Sandriane Pankará – nome do seu povo indígena que se encontra no território do Serrote dos Campos em Pernambuco – professora na Escola Estadual Indígena Luiz Pereira Leal, localizada no município de Itacuruba, e mãe da pequena Dandara, 4 anos. Essas características vão além de apenas adjetivos, elas permitem que Sandriane entenda a sua vocação em nosso mundo, elas fazem parte de tudo aquilo que ela acredita e luta, é o seu lugar de fala.

Sandriane tornou-se líder há pouco tempo, desde 2016, “na minha comunidade sempre estive como uma adolescente, jovem e participativa”, conta. Apesar da sua vocação nata para a militância, existia um certo receio em se autodenominar Líder, até que depois de várias participações em nome da sua comunidade, a própria Cacique de Sandriane a definiu com líder jovem e ela foi se acostumando com a ideia. “Eu gosto do jovem porque eu estou nesta fase da juventude, e a gente sabe que apesar de ser um momento bem prazeroso e bem agitado, ele vai passar rápido, quando a gente perceber já passou essa fase da juventude”, desabafa. Logo em seguida, ela já reflete sobre o seu pensamento e conclui que para a sua comunidade não existe restrição para ser jovem, eles possuem a liberdade de se autodenominar para o grupo a qual eles querem pertencer.

Mesmo que recente, a trajetória de Sandriane Pankará como líder jovem indígena, já traçou várias disputas em espaços de poder, como a sua candidatura para vereadora do município de Itacuruba – PE em 2020. A corrida eleitoral começou com grandes esperanças para a vitória, sendo ela a candidata com maior intenção de voto do Partido dos Trabalhadores (PT). “Eu comecei a entender a importância de ocupar todos os espaços públicos para reivindicar as políticas públicas para defender os interesses dos povos indígenas e da juventude”, comenta Sandriane. Por meio da participação em movimentos como a Comissão da Juventude Indígena de Pernambuco (Cojipe), Sandriane passou a enxergar a importância de ter voz ativa na política. Porém por falta de oportunidade de escolhas, como ela mesma disse, ela teve a dificuldade de acompanhar a política do interior. “Eu sofri bastante ataque, porque quando eu acredito em uma coisa que seja verdade eu a defendo. (…) Eu sou indaguenta de um modo de ser gasturado que eu mesma reconheço. (…) As pessoas precisam urgentemente de uma educação política”, conta sobre porque perdeu essa eleição, por causa da falta de perspectiva da população e também a compra de votos da política do interior.

Sandriane Pankará

A sua relação com o feminismo veio da figura materna, “eu sou uma mulher que admira muito as mulheres, desde antes de me tornar uma liderança jovem, eu sempre senti que as mulheres são inteligentes e que tem uma flexibilidade de ocupar qualquer lugar e fazer qualquer coisa e muito bem”, explica. Essa referência de ser mulher vem da sua mãe, a qual a inspira com a sua força de conquistar e passar obstáculos e também da sua resiliência constante nas suas batalhas, “ela consegue sorrir e conviver sem transparecer os problemas”, descreve. Quando criança, Sandriane relembra da época difícil que passou durante a infância, pois sua mãe engravidou jovem com 18 anos e teve outras duas filhas logo em seguida, “eu e minhas irmãs sempre estávamos vestidas e alimentadas, quando eu estava crescendo eu tive flashes de lembranças que ela deixava de comer para dar comida para a gente”, reconhece a batalha de sua mãe, que se tornou um símbolo de força e referência para Sandriane.

Para Sandriane, no enfrentamento da pandemia da Covid-19, faltaram políticas públicas voltadas para a população indígena na sua região. O próprio povo fez o fechamento nas fronteiras da aldeia. Em outros povos, Sandriane relata que fizeram barreiras sanitárias para bloquear as entradas.  “Era 24 horas de vigília, os jovens ficavam nas barreiras e a comunidade alimentava e ajudava”, conta. Existe um senso de comunidade muito bonito a se destacar aqui, pois todos que estavam vivendo na reserva preocuparam-se em proteger todas as pessoas que moravam ali, um senso que além da comunhão, trata todos como iguais. “Infelizmente, as pessoas que vivem na aldeia precisam sobreviver, e não existe renda aqui dentro para todo mundo, muitos são obrigados a sair porque possuem empregos fora da comunidade”, explica o porquê de as barreias não terem sido tão efetivas quanto uma atuação do poder público.

Acesse o link e acompanhe pela gravação a participação de Sandriane no 7º Colóquio Mulher e Sociedade.

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