UEPG promove evento sobre assédio nas instituições de ensino superior

“O assédio é um problema social e, como problema social, ele pode se manifestar dentro do nosso contexto”, explicou a palestrante Marcela Godoy

 

Na terça-feira (30), a professora Dra. Marcela Teixeira Godoy ministrou a palestra “O modus operandi do assédio sexual na IES: prevenção, encaminhamento e enfrentamento”. O evento foi uma ação conjunta com a campanha “A UEPG está de olho”, por meio da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), e aconteceu no Grande Auditório do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Na palestra, a professora falou sobre os casos de assédio dentro das universidades, em específico a relação entre professores e alunos.

Segundo uma pesquisa realizada com as pesquisadoras Stefânia de Castro Helmond, Cristina Trindade Ituassu e Alice de Freitas Oleto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 56% das mulheres entrevistadas já sofreram assédio nas universidades. Além disso, 73% das pessoas conhecem algum caso de assédio dentro das instituições de ensino superior.

Ainda, o estudo mostra que membros do corpo docente vitimam aproximadamente 30% das estudantes de graduação e 40% das mulheres na pós-graduação. Do total, 90% das alunas de graduação reportaram comportamentos indesejados de seus colegas do sexo masculino. 

Na 6° Turma, o Supremo Tribunal de Justiça reconheceu que o crime de assédio sexual (art. 216-A, do Código Penal), associado à superioridade hierárquica em relações de emprego, pode ser caracterizado no caso de constrangimento cometido por professores contra alunos. 

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o Paraná foi o 2° estado com mais casos de assédio sexual e estupro, além de ser o 3° em importunação sexual. No total, foram registrados 1.040 casos de assédio, 7.578 estupros e 3.237 importunações sexuais. O Anuário registrou que no país, de 2011 a 2023, os estupros cresceram uma taxa de 91,5%, e 88,2% das vítimas  registradas são do sexo feminino, sendo em sua maioria mulheres negras (52,2%). No total, foram 41.371 registros de importunação sexual e 8.135 de assédio sexual no Brasil. 

No Anuário, consta ainda que 16% dos homens já cometeram algum tipo de violência contra mulheres. Porém, ao mudar o formato da pergunta (ex: “Você alguma vez já humilhou sua parceira?”), 56% dos entrevistados assumiram que sim. 

De acordo com a palestrante, a ascensão de movimentos ultraconservadores no cenário político brasileiro ajudou a aumentar a violência contra a mulher, já que eles estabeleceram a pauta do debate de igualdade de gênero como uma adversária. Também, há violências que não entram nas estatísticas, como a desconfiança das instituições, a burocracia e dificuldade do acesso a serviços e a denegação que fazem com que a violência não seja reconhecida.

De 122 instituições avaliadas em pesquisa realizada pelo Intercept em 2019 (34 particulares e 88 públicas), 80% dos assédios se concentraram nos campus e seus arredores, enquanto 20% ocorreram na internet, jogos universitários, acolhida aos calouros e república de estudantes. Em 60% dos acontecimentos, os agressores eram estudantes e os outros 45% eram do corpo docente. Essa pesquisa mostrou que, desde 2008, mais de 550 mulheres foram vítimas de violência em instituições de ensino.

No cotidiano, outros tipos de violências veladas citadas por Marcela também se mostram perceptíveis, como por exemplo, o gaslighting, mansplaining e o manterrupting. O gaslighting acontece quando o abusador distorce e tenta invalidar a fala da vítima no intuito de fazer ela questionar sua consciência, enquanto o mansplaining é quando um homem tem a tendência de explicar algo para uma mulher sem considerar que ela já sabia daquilo. Ainda, o manterrupting ocorre quando os homens interrompem o raciocínio de uma mulher de forma desnecessária, de modo que ela não consegue ter seu espaço para ser ouvida. 

A palestrante também falou sobre o seu projeto de exposição “O que você estava vestindo?”, realizado em conjunto com a Universidade do Kansas, que busca dar acolhimento para as vítimas de violência sexual desde 2019. Ele também mantém parceria com o Ministério Público, a Vara da Infância e a Polícia Civil e Militar e trabalha junto à presença de advogados e psicólogos. “Eu vejo o quanto faz a diferença o acolhimento e o encaminhamento correto”, afirmou.

O assédio é caracterizado como toda e qualquer conduta indesejada de natureza sexual que humilhe a vítima e restrinja sua liberdade, além de insinuações e gestos explícitos ou velados. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), as denúncias podem ser feitas através do e-mail praeescuta@uepg.br, pelo WhatsApp (42) 3220-3237 e presencialmente na Ouvidoria da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), localizada na Reitoria do Campus Uvaranas, na Avenida General Carlos Cavalcanti, 4748.

 

Texto por Bruna Sluzala

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