Uso da I.A. na arte digital precariza trabalho de artistas e ilustradores

A utilização da tecnologia e, consequentemente, da Inteligência Artificial (I.A) se tornou uma prática frequente e tem se mostrado um problema para os artistas, principalmente para aqueles que trabalham com artes visuais e virtuais. Isso porque diferentes tipos de artes, como ilustrações, são produzidas pela I.A, substituindo projetos realizados por artistas.  

 

O uso da I.A. na área artística provoca discussões, ao retirar o espaço criativo das pessoas para o virtual. A Inteligência Artificial recria imagens a partir de textos e frases, e o que deveria ser uma boa ferramenta acaba produzindo imagens sem emoção, genéricas e simples. 

A ilustradora  e designer desde os 17 anos, Camila Trigorna, afirma que muitas empresas atualmente buscam “artistas de I.A” por ter uma suposta qualidade e rapidez no processo. “Infelizmente, muitas empresas e pessoas não se importam com a linearidade de traços ou estilo, somente com os “benefícios”, complementa Camila.

 

A artista observa que ainda há uma tentativa de utilizar a tecnologia a favor das pessoas. “A comunidade vive muito dividida entre tentar compor com a I.A e usá-la como ferramenta e criticar seu mau uso. Muitos buscam soluções jurídicas para comprovar autoria das artes ou a proibição do uso para não alimentar a inteligência generativa”.

 

Camila comenta que a I.A. afeta muitas áreas de trabalho, mas não desanima: “Impactou desde a advocacia até o cinema, todos, independente de suas áreas, serão afetados. Nossa missão é continuar criando e apoiando nossa comunidade e mostrando que nosso poder criativo é sempre maior que a inteligência artificial”, ressalta.

 

O uso da I.A. está levando artistas a abandonarem a área. Para o ilustrador Leandro Cruzes, que trabalha há 10 anos e já atuou na área de games, editorial, vestuário e animação, a inteligência generativa não cria e se apropria de trabalhos já realizados. Ele julga que é necessário um movimento para regularizar o uso das I.As, que está impactando os profissionais. “Ela apenas se alimenta de trabalhos de artistas já existentes para gerar seu banco de dados, sem remunerar ou dar créditos ao artista original. Para prevenir essa situação absurda é que existe a União Democrática dos Artistas Digitais (UNIDAD)”, diz. 

 

Leandro explica que os movimentos da categoria já atuam na área jurídica com projetos de lei. “O que o movimento coletivo de artistas faz é regularizar o uso da I.A pela PL 2338/2023. Não se trata apenas de arte, é um trabalho como qualquer outro”, finaliza. 

 

O Projeto de Lei nº 2338/2023 dispõe sobre o uso da I.A. no Brasil, porém o PL ainda está em andamento e, atualmente, não há lei que proíba o uso da tecnologia para a criação de artes por inteligência artificial. Em 2020, o PL 21/2020 também previa definir o uso adequado da I.A. no Brasil, estabelecendo fundamentos e diretrizes para a aplicação da tecnologia. O projeto ainda aguarda apreciação do Senado Federal.

 

Texto por Roberto Gabriel, Maria Gallinea e Bruna Sluzala

 

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