Vivências de casais LGBTQIAPN+ especial dia dos namorados 

Entre o amor e a resistência, casais compartilham suas histórias. 

Amanda Grzebielucka e Pietra Gasparini

 

 Em uma sociedade tão preconceituosa, vivenciar o amor homoafetivo é uma batalha diária. Encaramos olhares enviesados, comentários ditos inofensivos, mas que são puro ataque a quem somos. Mas no meio disso, histórias de amor que devem ser celebradas  se constroem, como a nossa. Nós, autoras desse texto, somos um casal de mulheres, e neste dia dos namorados, ou no nosso caso “das namoradas”, buscamos mostrar histórias de casais LGBTQIAPN+, que assim como nós, amam e resistem todos os dias. 

 Junho é também o mês do orgulho LGBTQIAPN. Sabemos que o dia dos namorados é construído para casais heterossexuais e cisgêneros, porém neste texto buscamos celebrar diferentes formas de amor. 

Resistência à dois 

 Renan Penteado da Silva e Carlos Ricardo Grokorriski, são dois homens cisgêneros que formam um casal gay. Eles se conheceram  em um aplicativo de namoro há 2 anos. “É até interessante como os casais homossexuais se encontram, quando a gente fala no aplicativo as pessoas podem  pensar muita coisa, mas é o lugar que a gente tem para conseguir se comunicar com uma certa liberdade. Ser quem você é sem ser  julgado”, conta Ricardo. Logo, Renan completa: “E deu tudo certo, no caso, estamos juntos até hoje. Depois de  duas garrafas de vinho, a gente está aqui juntos e é muito bom”.

 Os dois explicam que sempre foram muito bem recebidos pela família um do outro, mas que sentem uma barreira muito grande em relação à sociedade. “Eu sofri muito fora da família, uma vez num posto aqui em Ponta Grossa,  levei um tiro de raspão na cabeça. Não era pra eu estar aqui. Tanto que fiquei sem reação na hora. Essas situações acontecem e é por homofobia. São coisas que  não gosto de lembrar, mas que ficam marcadas”. Renan conta que na época ficou com muito medo, então não fez boletim de ocorrência nem pediu as imagens da câmera de segurança. Ricardo complementa falando sobre o julgamento, “Eu fico me perguntando por que a gente causa tanto pavor assim, por que a gente causa tanto medo? Até mesmo nessa questão dos direitos”.

 A dificuldade em se auto aceitar é algo que muitas pessoas passam, e para Renan isso é como um tobogã, com seus altos e baixos. “ Desde criança, tem dias que eu falo é, eu sei o que eu sou, é isso mesmo, e tá tudo bem. E daí tem dias que eu me pergunto por quê? Por que que eu fui sorteado com essa história? Por que esse cara se implicou com a gente na balada? Por quê? Sabe?”, desabafa.  

 Renan e Ricardo contam como os acontecimentos cotidianos para casais héteros ganham outra dimensão na vida de um casal homo. O que parece pequeno, como um almoço de domingo, vem carregado de outro significado: acolhimento. Eles comentam do dia no qual o pai de Renan convidou Ricardo para tomar um café.“Acho que o grande lance de colocar a cara para dizer é justamente comemorar esses pequenos detalhes do dia a dia que ninguém passa”, afirma Ricardo. Segundo ele, quem é homossexual muitas vezes precisa se virar sozinho. “Quando você acha alguém para viver isso com você as coisas ficam muito mais fáceis, a gente se apoia um no outro, me sinto forte ao lado dele”. 

Amor sem armários

 “Nunca tive tanta certeza de algo como tenho dela. meu sonho de ter uma família, agora é ter uma família com ela”. É assim que Luana Andreoli descreve seu relacionamento com  Giulia Bergonsi. As duas são mulheres cigenero que compõem um casal sáfico. Elas se conheceram  há 1 ano em um aplicativo de relacionamentos e estão juntas desde então. 

 No meio da paixão o casal também precisa ser resistência, como viver tentando ignorar constantemente seus pensamentos de que viver um amor com a pessoa do mesmo sexo é errado, e que por muitas vezes pensa em evitar afeto em espaços público por medo da violência, “É uma sensação constante de alerta que pesa muito. Sei que esse medo não está errado, infelizmente, mas eu escolho ter coragem para amar, para ser quem eu sou, para mostrar nosso amor sem medo”, conta Giulia 

 A família de ambas apoia o relacionamento e é muito receptiva, elas reconhecem que isso que é algo normal para casais heterosexuais e cisgeneros, porém, para a maioria dos casais LGBTQIAPN+ é extraordinário, “Uma das coisas mais importantes em um relacionamento homoafetivo são as coisas cotidianas, como um churrasco em família, andar de mãos dadas, demonstrar afeto em público, quero cada vez mais me sentir aberta a tudo isso”, desabafa Luana. Giulia também relata que os simples momentos significam muito, “O pequeno ato de dar as mãos ou trocar um beijo pode parecer simples para outros, mas para a gente é um ato de resistência e de afirmação da nossa existência”. 

 As duas contam que já viveram situações de homofobia, “Lembro a primeira vez que sofri, tinha apenas 14 anos, e recém começado terapia com uma psicóloga nova, logo nas primeiras sessões, quando falei sobre minha sexualidade, ela disse que tudo que eu precisava era ir para a igreja”, relembra Luana. Giulia fala dos olhares atravessados em todo lugar que demonstra afeto com sua namorada, “Além disso, em relacionamentos anteriores, cheguei a enfrentar homofobia vinda da família da outra pessoa, o que foi muito doloroso e difícil de lidar”.

 

Se assumir no amor do outro 

 “Viver um amor que também é uma forma de resistência é ir contra a maré, é mostrar que somos livres para vivermos como queremos e encontrar a felicidade nisso”, essa é a visão de Vinícius Valença sobre o relacionamento que tem com seu companheiro, que não identificamos por não ser assumido. Namorado de Vinicius acrescenta que a relação entre amor e luta causa um misto de sentimentos, “Ao mesmo tempo que é lindo e natural amar, sabemos que cada demonstração de afeto em público é um ato de coragem, uma forma de dizer que existimos e merecemos o mesmo respeito que qualquer outro casal”.

 Os dois também se conheceram em um aplicativo de namoro no final do ano passado. O casal falam sobre o julgamento da sociedade, “Temos um pouco de medo e desconforto de  demonstrar em público, mas sempre busco pensar que devo lutar contra isso, principalmente em lugares que sei que são mais “seguros”, como forma  de resistência a essa cultura que vive na própria insensatez”, desabafa Vinicius. 

 Seu companheiro que não é assumido conta, “Tenho medo da reação, como seria a aceitação, a gente percebe por comentários em almoços de família, entre outras coisas. Comigo nunca teve nada nesse sentido, mas vendo essas reações fico pensando como seria”. O casal relata que o fato de morarem sozinhos e longe da cidade de origem contribui para terem mais liberdade e não precisarem se esconder tanto. Eles contam que transformaram a vida um do outro, “A vida ficou mais leve e feliz. Ter alguém para compartilhar os medos e as alegrias, e que me faz sentir completamente aceito, é transformador. Aprendemos muito um com o outro”, afirma o companheiro. 

 

 

 

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