20 de Novembro – Dia da Consciência Negra e sua Importância

O Brasil é o pais que possui a maior população preta fora da África, com cerca de 56% do total de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em 2022. Mas mesmo sendo a maioria, a população negra ainda é invisibilizada pela sociedade. 

A data foi instituída pela Lei nº 12.519 de 2011. O texto tem a autoria da então senadora Serys Slhessarenko e tem como objetivo a memória da luta de Zumbi, líder quilombola morto em 1695 que tornou-se símbolo de resistência à escravidão no país. Porém, muitos pensam que a data é desnecessária e diminui a importância de um quantitativo tão importante da população brasileira. Vários se perguntam “qual a necessidade de uma data para celebrar a consciência negra?”

A resposta para esta pergunta é complexa. O geógrafo e professor Milton Santos (1926 – 2001) proferiu em uma entrevista a seguinte frase “Eu tive a sorte de ser negro em pelo menos quatro continentes e em cada um desses é diferente ser negro e; é diferente ser negro no Brasil.” E salienta que o povo brasileiro tem dificuldade em refletir acerca da questão racial no país. Santos defende que as políticas públicas voltadas à esta população perpassam as dimensões sociais, econômicas e territoriais – por exemplo, a Lei de Cotas (Lei 12.711) proposta em 2012 e revisada este ano. 

Por mais que o Brasil seja um país de maioria negra, a população preta ainda está longe de alcançar posições de destaque. Isto é reforçado pelo racismo estrutural (uma boa pedida é a obra do jurista, professor e atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida) que nada mais é do que a maneira de como o pensamento racista está enraizado na sociedade brasileira. Números mostram.

De acordo com o levantamento realizado pelo portal de empregos Vagas.com, somente 0,4% dos cargos de chefia das empresas são ocupados por negros. O mesmo levantamento mostra que as únicas posições em que os negros lideram são os cargos operacionais, com 33%. Além disso, a renda média de um negro é 75% menor do que a de um branco no mesmo cargo, segundo estudo do IBGE divulgado em 2022. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) indica que a igualdade entre brancos e negros, em condições de trabalho, se dará somente daqui 167 anos.

Já no ensino superior, embora houve crescimento no número de alunos pretos no ambiente acadêmico público – que chegou a faixa de 53% – segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em 2020. No entanto, este público ainda enfrenta dificuldades de permanência nas universidades, principalmente em cursos como Medicina e Engenharia. 

O Dia da Consciência Negra se faz necessário na construção de uma sociedade diversa, inclusiva e equânime. Trazendo a frase da filósofa estadunidense Angela Davis “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.

 

Por Gabriel Passos – Geógrafo pela UFV, Mestrando em Computação Aplicada pela UEPG e Secretário Adjunto do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais

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COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pelo seu texto Gabriel.
    E já que nós negros temos que justificar o porquê de tudo, sobre o Dia da Consciência Negra, podemos argumentar que a cada 10 anos da História Oficial do Brasil, 7 foram de escravização do povo Negro. Construímos a maior parte das riquezas desse país, mas somos os mais excluídos.

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