Em termos meramente técnicos, fazer jornalismo é levar informações relevantes e corretas para a sociedade. Olhando assim, parece simples: basta levantar, checar e transmitir fatos sobre um assunto.
É só pensar na quantidade de pessoas que formam suas opiniões e visões de mundo a partir do que leem, ouvem ou assistem nos noticiários para entender que não é assim tão fácil. Fazer jornalismo envolve ter responsabilidade sobre o que se levanta, checa e, principalmente, transmite ao público.
Manchetes e reportagens são poderosas. Elas podem reforçar preconceitos sobre um tema ou ajudar a desfazê-los.
A violência contra as mulheres, por exemplo, é um assunto cercado de pré-julgamentos. Quem nunca ouviu alguém dizendo “ela mereceu”? Ou homens justificando seus atos dizendo que foi um “momento de loucura”? A cobertura da imprensa sobre esses crimes pode acentuar ou enfraquecer essas narrativas.
O jornalismo parece ter escolhido a primeira opção. Segundo levantamento do Instituto Patrícia Galvão divulgado em novembro de 2016, a maior parte da cobertura da imprensa sobre casos de feminicídio minimiza o comportamento do assassino ou dá a entender que alguma atitude da vítima provocou a violência.
Ao destacar os discursos que tentam justificar os crimes, o jornalismo contribui para que a sociedade continue vendo a violência contra a mulher de forma superficial e aceitável, quando ela precisa ser vista como uma violação a direitos humanos a ser exposta e combatida.
Não se trata de transformar reportagens em campanhas pelo fim da violência contra a mulher. Mas é preciso relatar os fatos com profundidade e olhar crítico, sem cair na tentação de apenas reproduzir declarações e visões parciais de mundo.
Fazer jornalismo responsável é uma forma de defender os direitos humanos. Se não por consideração à sociedade, que seja por auto-preservação. Afinal, a atividade só existe enquanto um direito humano fundamental — a liberdade de expressão — existir e for respeitado.