Uma necessária revisita à história da imprensa brasileira em tempos de ditadura, 55 anos depois: é preciso lembrar para não esquecer

Parte 1: Direitos humanos, movimentos sociais e imprensa

Elaine Schmitt

Dentre os acontecimentos da década de 1960, as transformações políticas, sociais e culturais experimentadas pelo ocidente global destacam-se no que diz respeito aos direitos humanos. Um tempo em que países como Estados Unidos e França começavam a ver o desencadeamento da contracultura pela ascensão dos movimentos estudantis e sociais como o feminista, o negro e o ambientalista, e da revolução sexual.

No âmbito da política, o Brasil de 1961 começava a ser governado por Jânio Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), que venceu as eleições com 5,6 milhões de votos usando uma vassoura como símbolo maior, de modo a “varrer” toda a corrupção brasileira. A partir daqui, já podemos traçar, quase que imediatamente,semelhanças com nossos nebulosos dias atuais, não é mesmo?

Ao mesmo tempo, João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), se tornava o vice-presidente sem saber que, com a breve renúncia de Jânio, ocuparia o cargo de Presidente da República, conforme conta Gaspariem A ditadura envergonhada, obra que faz parte de uma coleção lançada em 2002, pela editora Companhia das Letras.

Sua trajetória governamental, no entanto, foi interrompida em 1964, com a tomada do poder pelos militares sob a organização de uma política de desestabilização, que envolveu participação de empresas nacionais e transnacionais do governo norte-americano e de setores das Forças Armadas, originários da Escola Superior de Guerra.

Em meio a tantas mudanças promovidas pelo golpe, a imprensa de maior prestígio e circulação mostrou-se um efetivo suporte estratégico do movimento militar na derrubada do regime constitucional recebendo, inclusive, grandes investimentos para que houvesse uma campanha publicitária de promoção ao Estado.

Mas eventos dessa magnitude revelam diversos caminhos tomados por políticos, militares e jornalistas. Se por um lado havia alinhamento ideológico entre mídia e golpistas, por outro havia a repressão, que se fazia presente e coagia redações inteiras a cumprirem ordens militares. Nesse sentido, a exploração da censura como um sistema para amedrontar e oprimir determinados discursos expõe a facilidade da suspensão de direitos civis básicos.

A título de lembrança, trago a Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão, de 1789, que define no Artigo-11 a livre comunicação dos pensamentos e das opiniões como um dos mais preciosos direitos do homem. Dessa forma, todo cidadão pode falar, escrever e imprimir livremente, respondendo pelo abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei. A existência da Declaração, no entanto, não garante seu cumprimento e isso, infelizmente, nunca foi novidade. Quanto às definições de “abuso de liberdade”, a Lei se mostrou pouquíssimo clara, ou seja, aberta a brechas e interpretações dúbias. Algo que lembra a proposta feita pelo senador Lasier Martins (PMDB-RS) no final de 2018, na qual alteraria a Lei Antiterrorismo, facilitando a criminalização de diversos movimentos sociais.

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