Instituições de apoio à população LGBTQ+ sofrem falta de apoio pelo Poder Público

Durante a pandemia do coronavírus, algumas camadas da sociedade foram mais impactadas que outras. A população LGBTQ+, por exemplo, está entre as que historicamente foram marginalizadas e excluídas da sociedade. Porém, esse problema se agravou devido a crise sanitária, política e econômica que o Brasil enfrenta. Entre uma dessas consequências está a falta de apoio do poder público às organizações que prestam assistência a esta comunidade.

O Grupo Renascer e a Associação Flor de Lis LGBT são as duas instituições em Ponta Grossa que acolhem LGBTQ+. Márcia Rodrigues, representante da Associação Flor de Lis LGBT, afirma que em Ponta Grossa inexiste a consciência sobre a importância dos Direitos Humanos: “Na cidade, apenas a Assistência Social trabalha para atender as minorias, não havendo a preocupação na garantia de Direitos, que acaba por limitar o trabalho nas ONGs, não permitindo que as organizações atuem como defensoras dos direitos garantidos por lei a essas populações”. 

Débora Lee, fundadora do Grupo Renascer, afirma que um dos principais obstáculos para a população LGBTQ+ é a falta de políticas públicas. Segundo a voluntária, essas medidas são importantes para dar a oportunidade de trabalho à população LGBTQ+ como uma forma de retorno financeiro e social.

Um levantamento realizado pelo estudante de Jornalismo Alex Marques para o Portal Periódico, indicou que apesar de ter tido um orçamento de R$ 23 milhões entre 2017 e 2020, a Secretaria da Justiça, Trabalho e Família do Estado – órgão responsável pela formulação e direcionamento de recursos à comunidade LGBTQ+ no Paraná – não repassou nenhum valor às políticas de promoção dos direitos LGBTQ+ no estado.

Sobre a falta de verbas vindas do poder público, Rodrigues analisa que “a grande dificuldade é a falta de investimento no terceiro setor, principalmente ONGs de Defesa de LGBTQIA+”. Para ela, as ONGs são usadas pelo governo como prestadoras de serviços.  “Várias políticas públicas foram propostas em conferências municipais, estaduais e nacionais, suprem  demandas de longo, médio e curto prazo. Essas propostas são usadas como moeda de troca, ficam engavetadas nos gabinetes de políticos que as usam no momento que as mesmas lhes trouxerem algum benefício”, expõe.

Pandemia agrava dificuldades 

Problemas sociais, econômicos e culturais enfrentados pela população LGBTQ+ foram acentuados pela pandemia da Covid-19. Uma pesquisa realizada pelo Coletivo #VOTELGBT e pela empresa de pesquisa Box1824, mostra que o principal dano na vida da população LGBTQ+ foi a piora na saúde mental, refletindo o contexto mais solitário e preconceituoso que vive uma pessoa queer.

Além disso, os dados indicam que dificuldades econômicas estão entre os principais problemas enfrentados pela população LGBTQ+ nesse período. A pesquisa ouviu 9 mil pessoas, e 11% delas apontaram a falta de renda, enquanto que 7% apontam a falta de trabalho. Uma em cada 4 perderam o emprego em razão da Covid-19 e uma em cada 5 pessoas LGBTQ+ não possui nenhuma fonte de renda individual hoje. Entre os desempregados, 3 em cada 10 já estão sem trabalho há 1 ano ou mais.

 

 

Débora afirma que hoje o Grupo Renascer ajuda como pode, já que o apoio do poder público é precário. “Em todo o Brasil acontecem cortes nas instituições que acolhem essa população, devido aos nossos governos. Quando contávamos com o suporte do poder público para financiar o Renascer, oferecíamos diversos cursos profissionalizantes, como o ensino de línguas, cursos de cabeleireiro e artesanato. Assim, conseguíamos ajudar a população marginalizada, de fato”, relata a coordenadora do grupo Renascer. 

Mesmo com os cortes, na pandemia Débora foi à linha de frente, entregando mais de 10.000 máscaras para populações LGBTQ+ e de rua, além das cestas básicas e dos testes rápidos de coronavírus. Ela afirma que uma das suas grandes forças é conseguir chegar em “guetos, boates e camadas mais isoladas da sociedade”,ou seja, lugares que a Saúde costuma não chegar.

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