Todos os dias o fato de ser mulher é uma tarefa árdua, por todos os abusos que sofremos. A última semana (01/04 a 06/04), em especial, foi um período trágico para a mulher pontagrossense. Em menos de sete dias dois episódios feriram e abalaram não só as mulheres diretamente envolvidas nos fatos, mas todas que lutamos por uma sociedade mais igualitária. No primeiro dia do mês, começamos com o assédio sexual verbal, como o jornal Diário dos Campos classificou, para com Bianca Machado, assessora de imprensa do Operário Ferroviário – time de futebol da cidade. Na última sexta-feira (06/04) o feminicídio de uma estudante da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Os dois casos tiveram grande repercussão na mídia local e nas redes sociais, centenas de pessoas aderiram às causas, apoiando, de certa forma, o direito das mulheres. Conforme acompanhamento da cobertura dos casos em seus respectivos dias, percebe-se que o caso do assédio ganhou as redes sociais, mas não teve o destaque necessário para a discussão na mídia tradicional. O telejornal Paraná Tv utilizou de um breve espaço em seu noticiário para comentar o fato ocorrido, em nenhum momento buscou-se saber as medidas cabíveis aoclube adversário (de onde veio o assédio por parte dos torcedores) e muito menos como foi registrado o boletim de ocorrência pela polícia da cidade. Mesmo com a campanha nacional ‘Deixa Ela Trabalhar’ (que trata de jornalistas mulheres no meio esportivo), a mídia local não se preocupou em aprofundar a discussão sobre assédio moral e sexual no trabalho.
Quando falamos do feminicídio da estudante da universidade, houve de modo até bem disseminado uma cobertura sobre o fato, entretanto, este é o momento para se questionar se realmente ocorreu a melhor abordagem. A Rede Massa, RPCTV, Portal ARede, Diário dos Campos cobriram o acontecimento. Boa parte do material divulgado explorou o sensacionalismo, começando pelo ‘Repórter Sassá’ que acabou utilizando das redes sociais para expor ainda mais as vítimas. A partir desta exposição, outros portais compartilharam das imagens (como sangue e corpo coberto),e da informação para apenas reproduzir o conteúdo. Apesar destes casos de desserviço, inclusive para o jornalismo como um todo, tivemos a reportagem de 8 minutos da RPCTV, julgando pelo fato de que a maioria das reportagens tem entre 2 e 4 minutos, o fato ganhou grande destaque.
No entanto, ganhar alguns minutos na tela não significa ter uma abordagem sobre gênero. Surpreendendo expectativas, o termo feminicídio foi reafirmado com insistência pelo telejornal, o direito das mulheres foi abordado e uma fala sobre violência doméstica deu o fechamento. Contudo as coberturas de um modo geral perderam a oportunidade de amplificar o debate mostrando como a violência contra a mulher está presente em nossa sociedade. Poderiam apontar que os acontecimentos não são isolados, quantas mulheres foram violadas este ano em Ponta Grossa? Qual os dados de feminicídio, violência contra a mulher e assédio na nossa região? Ainda se tem muito o que aprender sobre a cobertura com enfoque em gênero e principalmente sobre dar destaque e se discutir a respeito dos tipos de violência contra mulher.
LINKS:
http://arede.info/ponta-grossa/208702/acusado-de-feminicidio-continua-internado-no-hr
http://arede.info/ponta-grossa/208896/justica-decreta-prisao-de-estudante-por-feminicidio