Direitos Humanos e o jornalismo

Direitos humanos é uma pauta percebida como necessária e que se tornou um importante debate nos últimos anos. No ano de 2018, mais precisamente no dia 10 de dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos de existência. O jornalismo, através de seu papel crítico de pautar a sociedade para o debate contínuo sobre assuntos que vigoram o âmbito público e o afetam diretamente, deve compreender em suas produções este ponto. Trazer a discussão dos Direitos Humanos não só é responsabilidade, como é fundamental que o jornalista mostre à esfera pública o desfalecer desse documento.

No dia 31 de outubro deste ano, uma matéria publicada no portal aRede, falha e desumaniza um assunto que exige muito mais que reciclagem de informações e um texto sem imparcialidade e objetividade. Com a manchete “General Heleno defende uso de atiradores de elite contra criminosos” e um texto de 5500 caracteres, era de se esperar um embate jornalístico, com triangulação de fontes, embasamento crítico e, no mínimo, um ponto de partida e chegada. Entretanto, quando se consulta o mesmo dia, no site da Agência Brasil, nota-se que a matéria encontrada no site aRede, embora assinada por jornalista e com os dizeres “com informações da Agência Brasil”, é inteiramente copiada da agência (link da matéria), incluindo manchete, linha de apoio, texto, retrancas e foto.

Ainda que, a matéria original permaneça dentro dos interesses onde foi veiculada, o jornalista local, ao invés de copiar, deveria aproveitar do assunto em pauta e desdobrar debates locais relacionados à violência. Dentro da matéria, o General defende a intervenção militar no Rio de Janeiro e denota que o uso de rifles de precisão impediriam mortes desnecessárias. Mas, em que ponto o jornalista acha coerente replicar um texto baseado em uma fonte só? Em que ponto o jornalista deixa de buscar o equilíbrio e passa a tomar falas de um General, situado em outro espaço e contexto, como razoáveis e sem questionamento?

Uma breve pesquisa nos traz matérias como a de 15/10/2018, do jornal OGlobo Rio, que relata que após a intervenção militar houve, em média 4 mortes por dia por resistência policial. Ou como outra matéria publicada no dia 15/09/2018, no Estadão, mostra que o número de tiroteios do Rio de Janeiro aumentaram em 62% após a intervenção, 14 crianças e 41 adolescentes foram baleadose foram registradas 229 horas e 20 minutos de tiroteios contínuos. Ainda uma matéria do dia 27/09/2018, da Folha de São Paulo, denuncia os abusos realizados por militares da Intervenção no Rio de Janeiro.

Então, o jornalismo local ainda precisa de mais compreensão de seu posicionamento crítico frente à sociedade. O debate sobre armamento, abusos, estupros, e, principalmente, violação dos direitos humanos, vem sendo banalizado pelas pessoas nas redes sociais. Nesse momento crítico, devemos unir nossas palavras para formarem informações e fontes para o debate das pessoas. É nossa profissão responsável pela coleta, união e tradução de fatos que, sem os jornalistas, passariam despercebidos. Replicar uma notícia sem critérios ou espaço para o contraditório é falho. Deve-se usá-la para criar um gancho, preferencialmente voltado para o entendimento de uma realidade local, de proximidade.

Por João Pedro Teixeira

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