Flores sempre secam mas a luta permanece

Por Rafael Santos

          O mês de março é marcado pelo dia oito, dia internacional da mulher. Mas a culturalização e a publicidade comercializam esse dia como sendo o dia de boas maneiras heterossexuais, palavras vazias e flores que secam. O dia oito não é representado por agradecimentos, embelezamento e tampouco, não é o único dia em que se deve falar de respeito à mulher, pois a luta é contínua.

              Esse é um dia de luta por igualdade de gênero. Há mais de 100 anos, mulheres na Europa e nos Estados Unidos foram às ruas marchando por melhores condições de trabalho. Não é uma data de flores, mas sim de reafirmação de luta, entendimento e respeito a toda jornada feminista até aqui. Embora, infelizmente, as condições ainda sejam desiguais para as mulheres, mesmo que, mais de século tenha passado.

              No entanto, levando em conta toda a jornada história da luta das mulheres é lamentável ver que o jornalismo atual em Ponta Grossa tenha um lugar de fala mudo e sem profundidade. No dia oito de março o Jornal Diário dos Campos publicou três matérias envolvendo mulheres, sendo duas delas notas curtas falando de suspeita de abuso sexual e violência contra a mulher. E a outra trazia na matéria a efetividade de uma operação que prendeu 282 homens por violência contra a mulher em todo o Estado. E só no dia seguinte, o veículo apresentou um release de assessoria remetendo ao dia oito de março.

         Não desmerecendo aqui a homenagem feita para as policiais da Polícia Militar de Ponta Grossa, o texto pecou por ter sido uma publicação do release, com uma única fonte masculina para falar sobre o desempenho das policiais. Assim, pergunto: Onde está a voz das mulheres no dia oito de março? Onde está o poder de mais de 100 anos de luta representado no entendimento jornalístico? E o investimento do jornal em produzir uma cobertura jornalística.

              Durante todo o mês de março foi analisado uma média de 23 matérias contendo algum tipo de violência contra a mulher, se fossemos levar em conta um dia de cada do mês, em apenas sete dias não houve violência. Mas não! Isso não está ficando cada vez mais “comum” como o jornal apresenta ao relatar a incidência de casos de violência contra a mulher em Ponta Grossa. Esses casos não devem ser tratados como naturais, principalmente por veículos jornalísticos com certa notoriedade. Não é natural, em um mês, 23 coberturas reportarem como se fossem mais um caso de violência contra a mulher em uma cidade que registrou e confeccionou dois mil boletins de ocorrência na delegacia da mulher no ano de 2018, dados esses, que o próprio jornal apresentou.

            Outro debate que levanto é sobre o caso da estudante de direito, morta pelo namorado no dia dez deste mês. Em duas, das matérias que o jornal apresentou sobre o caso, o que marcou foi o depoimento do agressor que aparece comentando o “porquê” dele ter cometido o crime. Na reportagem são apresentadas “as justificativas do agressor”, como se o feminicídio pudesse ser tolerado. Ainda faço a mesma pergunta para a imprensa: Onde está a auto-reflexividade dos profissionais da imprensa e o compromisso social deles?

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