Notas exigem pouco, acontecimentos exigem mais

Nesta semana, decorrente do dia 15 ao dia 27 de outubro, um caso chamou a atenção na veiculação das notícias nos portais G1 Campos Gerais e Diário dos Campos(DC). Ocorrido na terça-feira (16), trata-se sobre um homem que estava se masturbando no ônibus público da cidade. O assunto foi veiculado em dois dos três jornais locais, no G1 e no DC. Embora o fato envolva assédio sexual, as duas matérias são curtas e discorrem em 4 e 2 parágrafos respectivamente. Não apresentam assinatura de nenhum jornalista, o que denota falta de credibilidade e descaracterização na apuração fraca e superficial. Considera-se esse tipo de violência um assunto sério que constantemente deixamos passar com frases e construções fracas que colaboram para a normalização de uma violência. As duas matérias permanecem nessa situação quando montam-se em formato de nota.
A matéria no G1, constituída apenas de quatro frases diretas, não ouve nenhuma das mulheres, ou passageiras (os), presentes no local. Aponta apenas duas fontes de forma indireta [Polícia Civil e a delegada]. Já o DC constrói a nota em cima de dois parágrafos, entretanto peca quando utiliza-se do termo “supostamente”, embora com ocorrência registrada e três mulheres ouvidas, a palavra utilizada descaracteriza a credibilidade das testemunhas e reforças o discurso de invenção do assédio.
Além disso, as duas matérias mostram uma falha jornalística imensurável: o contrato com o público. Quando passamos por acontecimento desse tipo, por mais “pequenos” que pareçam, sempre são ganchos para discussões que a sociedade necessita, principalmente em tempos de crises morais e ataques aos Direitos Humanos. O assédio é pauta grande, é pauta forte e essencial a ser discutida. O jornalismo deve usar-se da sua função de comunicar para elaborar textos críticos e bem apurados. Nessa situação, poderia ter ouvido as testemunhas, apresentar dados de violência sexual e assédio (segundo pesquisa DataFolha [2017], 42% das mulheres acima de 16 anos já sofreram assédio sexual, enquanto dessas, 22% ocorreram em transporte público). Por que manter uma nota tão superficial em um assunto tão profundo? O jornalismo precisa se atentar às demandas da sociedade e, constantemente, provocá-la ao debate.

Por João Pedro Teixeira

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta