O Jornalismo do “interior” vive um processo sintomático de mal-estar sobre o interesse público

Há jornais, principalmente os onlines, reiterando estereótipos com foco em interesses específicos de um público. É o caso do portal de notícias aRede que possui uma editoria chamada “homem”, com o intuito de apresentar matérias para o público masculino sem levar em consideração que o jornalismo deve atender ao interesse público. Embora os textos sejam reproduzidos de outros veículos, não se tratando de produções da equipe do portal ARede. Está editoria faz parte do repertório de conteúdos de entretenimento que há em portais. O problema é quando estes conteúdos reforçam perspectivas sexistas. Contudo, quando analisamos a respectiva editoria, percebemos um processo sintomático de mal-estar sobre o interesse público.

            Optou-se por não fazer nenhum recorte de notícias, buscando observar o conteúdo publicado até a página quatro disponibilizado no site. A matéria “Orientadora fala sobre as chances de um segundo encontro”, sobre como as mulheres devem se comportar no primeiro encontro para não afastar ou frustrar ELES, foi uma das que chamou a atenção. Ainda fica pior quando o texto compara o comportamento humano com o animal para justificar que as mulheres devem deixar que os homens as cortejem. Além disso, a matéria coloca a seguinte frase da Orientadora – “homens e mulheres são e serão sempre muito diferentes na maneira de pensar, de agir e de reagir a uma situação”. E complementa: “E o nosso papel é nos deixarmos ser cortejadas”. Criando um estereótipo de que a mulher deve ser submissa aos homens e que não deve tomar a iniciativa, pois, assim, pode afastá-los.

            Outra que despertou atenção foi a intitulada: “Relacionamento sem sexo é possível?” Basicamente a matéria é voltada para criar o estereótipo de que a mulher não pode ser independente financeiramente e sim que precisa de um homem, ou como a própria matéria coloca um “daddy” para bancá-la. Para enfatizar isso o texto traz uma fonte mulher que fala: “[…] Em troca da minha disponibilidade, eu sempre recebia presentes adoráveis e até um curso de fotografia, totalmente pago por ele”.

            Além dessas matérias citadas, outras são pautadas por temas como: cerveja, carros e beleza masculina. Não há problema em produzir matérias sobre os homens, desde que o jornal entenda que não é uma revista masculina, e que essas produções não precisam diminuir as mulheres reiterando estereótipos machistas. Falta ao portal aRede o que o pesquisador e teórico da comunicação Wilson Gomes chama de função de legitimidade social, que é a capacidade do jornalista de produzir notícias, conteúdos voltados ao interesse público com uma base arraigada em valores socialmente reconhecidos e que não se faz apenas pela função prática, mas também pelo valor moral.

              É com essa função social que o jornalismo tem o poder de retirar os cidadãos de atitudes passivas, de fomentar debates e quebrar padrões. Nesse entendimento, a função social do jornalismo é garantida como existência importante na esfera pública/social, pois, se não atendesse a função na qual foi designado se tornaria mero negócio de interesse e perderia a legitimidade.

 

Por Rafael Santos

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