O jornalismo factual desumaniza e abafa problemas sociais e estruturais sérios

​É horrível saber que as mulheres são mal representadas nas matérias jornalísticas e esse problema é desagradavelmente vergonhoso para as instituições e o próprio jornalismo. Tendo em vista o grande problema social que elas vivem cabe ao jornalismo como fiscalizador e mediador da sociedade, no mínimo, que é o que a conduta ética exige, dar grande importância para um problema social que é grave e afeta não só as mulheres, embora elas sejam as mais prejudicadas. ​

No dia 09 de outubro, a UEPG teve mais um caso de violência contra a mulher, infelizmente foi mais um caso, e não é de hoje que a instituição lida com esse tipo de barbárie que não é um problema só externo, mas também interno. Se perguntar a estudantes, mulheres, funcionárias e acadêmicas da instituição se elas se sentem seguras e protegidas dentro da estrutura universitária irá se deparar provavelmente com respostas negativas. ​

No entanto, nos principais meios de comunicação da cidade Diário dos Campos e ARede, pela análise feita de como foi tratado midiaticamente o caso, os dois veículos não fizeram seu papel jornalístico atuante como fiscalizadores e mediadores sociais. Trataram o caso como sendo mais um em que a instituição passa. O fato, quero ressaltar aqui, de ser mais um caso já é bastante alarmante para a instituição e não dar o devido tratamento mostra que um jornalismo declaratório e factual destrói o poder e relevância da profissão que se faz tão importante na sociedade. A forma rasa como questões assim são tratadas naturaliza muito um tema que deveria gerar questionamentos importantes na sociedade. ​

Dentro do que foi apresentado pelos veículos, o caso foi tratado superficialmente. O Diário dos Campos foi o que menos abordou a violência contra a mulher, apenas no lide trouxe o ocorrido, depois apresentou a nota que a universidade deu sobre o caso, divulgada apenas no dia 11, dois dias após o ocorrido. O texto mencionou como a instituição, em sua nova gestão, vai melhorar esse problema e depois falou sobre o caso. Já no portal ARede, a abordagem apresentou mais detalhes sobre o acontecido, trazendo a fala anônima de uma tia da estudante que sofreu o atentado. Logo em seguida trouxe também o lado da nova gestão da reitoria que assumiu em setembro, informando o que será feito para melhorar a segurança da universidade e, principalmente, no campus Uvaranas. ​

Me pergunto agora, e as outras estudantes? Como elas se sentem em relação a falta de segurança? Cadê o aprofundamento? Se contabilizarmos quantos casos já ocorreram na instituição percebemos há quanto tempo essas estudantes e mulheres sofrem com a insegurança de viver em uma instituição que não tem medidas, verdadeiramente boas, para a proteção de toda a comunidade acadêmica. Creio que a ferida do jornalismo ainda seja elevar fontes oficiais, onde suas falas são o alento que a sociedade precisa, em que tudo se resolve colocando aspas e um cargo oficial no texto, é decepcionante ver como o jornalismo está corrompido. Nem mesmo a própria assessoria da UEPG publicou algo sobre o acontecido no seu portal de notícias. Como se os estudantes não devessem saber como sua própria universidade está tomando medidas para melhorar a segurança! Às vezes um ranking dizendo que a instituição é uma das melhores no mundo não é tão importante quanto a segurança de quem faz a universidade subir nesse ranking.

Por Rafael Santos

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