Observatório: Conflitos internacionais: da reprodução de conteúdos à falta de abordagens locais

O mundo parou com a declaração de invasão da Ucrânia, pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, no dia 24 de fevereiro deste ano. Os noticiários televisivos e veículos de comunicação ocuparam seu espaço com o conflito internacional. Em um primeiro momento, tudo o que se sabia acerca dos primeiros bombardeios era baseado em imagens e vídeos publicados pelos próprios cidadãos ucranianos na internet.

No entanto, após quase três meses do conflito, informações acerca dos acontecimentos no país são veiculadas diariamente. O inegável impacto econômico causado e as decisões dos governantes estão entre as principais pautas refletidas pelos jornais.

Como forma de compreender o tratamento dado às notícias internacionais pelos jornais da cidade, foram analisadas 27 matérias publicadas pelos dois principais portais de notícia de Ponta Grossa: 18 notícias de aRede e 9 notícias do DC +, durante todo o mês de abril.

De uma forma geral, não houve tentativa de relativização de conteúdo em ambos os portais, ou seja, atentar-se a detalhes que impactam no cotidiano pontagrossense, como a economia, a cultura e a vinda de imigrantes para cidades vizinhas como Prudentópolis. Apenas um único conteúdo em vídeo do portal DC+ com título “DCMAIS DINHEIRO #62: Rússia x Ucrânia: o impacto da guerra sobre a economia brasileira” falou sobre as consequências no país.

Outro ponto importante que vale salientar é a total reprodução de conteúdos da Agência Brasil e outros sites em ambos os portais. No caso de aRede, de 18 matérias, 14 delas eram conteúdos replicados por outros órgãos. É preciso levar em consideração que, quando se trata de notícias internacionais, todas as informações recebidas são repassadas pelas agências; entretanto, não há um esforço de direcionar as matérias de forma local, ouvindo especialistas da área que residem na cidade.

Por tratar-se de um conflito de difícil entendimento, grande parte das informações necessitavam de um conteúdo multimídia (o que não ocorreu) como mapas, infográficos, tabelas ou até mesmo vídeos para esclarecer melhor os acontecimentos ao público. Além disso, títulos e legendas apelativas, como a publicada na aRede “Nova dama da morte é idolatrada pelos ucranianos” e “conheça a atiradora idolatrada pelos ucranianos” trazem um grande sintoma do webjornalismo atual, os “clickbaits”, notícias feitas para ganhar engajamento, deixando de lado critérios importantes como a relevância de conteúdo e a ética na profissão.

A superficialidade das notícias e a distância que as coloca da realidade da guerra fazem com que detalhes importantes sejam esquecidos a cada dia, como a vulnerabilidade das mulheres, das crianças, dos idosos e dos animais, o racismo escancarado no momento da imigração, a fome e a pobreza iminente. Para um jornalismo de qualidade, espera-se uma cobertura mais atenta aos impactos da guerra no contexto local e um aprofundamento do tema de forma plural, estabelecendo contrapontos que permitem lançar outros olhares sobre o conflito.

 

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