Professores relembram o episódio que marcou a luta por direitos e protestam pelo desmonte da educação pública no Paraná
Bombas, bala de borracha, golpes de cassetete, jatos de spray de pimenta, essa foi a resposta do Estado para os servidores públicos que reivindicavam seus direitos em protesto pacífico no Centro Cívico de Curitiba no dia 29 de abril de 2015. Os protestantes foram alvos da polícia militar, sob as ordens do então secretário de Segurança Pública do Paraná, Fernando Francischini, e do governador da época, Beto Richa. O governo estadual havia enviado à Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) um projeto de lei que alterava a forma de custeio do sistema previdenciário estadual.
Em resumo, o projeto permitia o uso de recursos do fundo previdenciário dos servidores para pagar aposentadorias de servidores inativos, o que era visto como uma manobra para aliviar as contas do Estado. Além disso, estavam acontecendo atrasos salariais e cortes na educação pública. Nesse cenário, os servidores públicos, principalmente os professores da rede estadual foram às ruas protestar. O ato que era para ser um protesto pacífico deixou mais de 200 feridos. Apesar da resistência, o projeto foi aprovado.
O professor Carlos Oliveira, que trabalha na rede estadual do Paraná há 30 anos, relembra o dia do massacre. “A situação era momento de resistência, de luta. Estávamos em vigília quando, às 15 horas, iniciou um processo de gás lacrimogêneo, bombas que vinham em nossa direção, tanto pelo chão, como pelos helicópteros que sobrevoavam a praça Nossa Senhora de Salete. Colegas nossos, numa tentativa de defesa e mesmo de resistência, foram agredidos com cassetetes e balas de borracha”, desabafa.
Carlos ainda ressalta a situação atual dos servidores públicos do Paraná, “Nos dias atuais, não temos um massacre com bombas, balas de borracha, gás lacrimogêneo. Mas podemos considerar que ainda existe um massacre quando temos a retirada dos nossos direitos, quando o atual governador Ratinho Junior manda projetos ou não cumpre aquilo que é decidido pelo Judiciário. Então, na verdade, desde 2015, o massacre continuou”.
O docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Érico Ribas, tinha recém iniciado sua carreira como professor efetivo da instituição e acreditava que teria boas condições de trabalho até viver o massacre. “Foi a maior violência que eu já vivi até hoje no âmbito profissional, estava animado com o meu trabalho, estava achando que ia ter um futuro promissor”. O professor acrescenta que aquele dia era o início de um desmantelamento da educação pública paranaense. “ Os governos que se sucederam foram governos sempre violentos que passaram a ouvir cada vez menos o funcionalismo público. O governo atual, Ratinho, não ouve os professores, somos uma categoria cada vez menos respeitada”, lamenta.
Registros – A importância dos estudantes na luta
O ato do dia 29 de abril de 2015 foi a primeira cobertura fotojornalística do então estudante do primeiro ano de jornalismo da UEPG, agora jornalista e doutorando pelo programa de pós-graduação da UFPR, Angelo Rocha. Ele conta que na ida para Curitiba, ainda no ônibus o sentimento era de tensão, sentiam que ia acontecer algo. “Ao chegarmos no centro cívico o ambiente parecia tranquilo, porém, ao caminhar até a ALEP, encontramos uma mobilização policial fora do comum. Os comentários eram de que tinham cachorros, cavalos, tropa de choque, tanques de água, helicópteros e até atiradores nos telhados. Nesse momento, a tensão voltou”. Angelo relata que entenderam que a agressão e massacre dos professores tinha começado, assim que soltaram a primeira bomba, que caiu ao lado do seu irmão. “Depois disso foi o caos, violência atrás de violência”.
Assim como Carlos, Angelo também descreve um cenário de desmonte e massacre contínuo da educação no Estado como: implementação da da Lei Geral das Universidades (LGU), e os ataques às escolas estaduais, como a implementação de escolas cívico-militares, a privatização, além de diversos cortes. “Temos que entender que a educação pública, gratuita e de qualidade está sendo alvo, querem retirar esse direito da sociedade. Portanto, a participação dos estudantes, assim como de toda a sociedade, é fundamental e necessária!”, afirma.
Angelo Rocha registrou o horror em fotografias, “Foram cenas e mais cenas impactantes. Entendo que meus registros foram testemunhos daquele momento, ato realizado por inúmeras pessoas que vivenciaram aquele crime praticado de forma escancarada em praça pública e com dinheiro público sobre professores, servidores e estudantes que estavam defendendo a educação pública”. As fotos de Ângelo, e de outros estudantes e fotógrafos, fazem parte do livro ‘Massacre 29 de abril’ que resulta da cobertura fotojornalística do episódio, produzido pelo projeto de extensão do curso de jornalismo da UEPG, Lente Quente, por meio de financiamento coletivo.
Além disso, foi produzido um documentário em vídeo resultado de uma parceria entre o curso de jornalismo – representado nos projetos de extensão Lente Quente, o sindicato dos Docentes da UEPG e a TV comunitária. A produção está disponível no canal do Youtube de Gabriel Carven. Para conferir clique aqui youtube .
Hoje, 10 anos depois do ocorrido, professores de todo o Estado estão em paralisação como ato de resistência para jamais esquecer o Massacre do Centro Cívico e de luta contínua na defesa da educação pública do estado do Paraná.
O Sindicato dos Docentes da UEPG (SINDUEPG) organizou três atos para este dia, iniciou com panfletagem em ato público no Campus Central, seguido de seminário “Carga Horária x Regime de Trabalho” que foi realizado no miniauditório (Sala B – 108) – Campus Central e finaliza a data com a ‘Vigília 29 de abril’ – Memória, Justiça e Resistência que acontecerá no Campus Uvaranas às 18 horas.
Por Amanda Grzebielucka e Pietra Gasparini
Muito boa a matéria! Foii um dia de tristeza e toda vez que me lembro eu tenho vontade chorar. Nós não acreditávamos no que estava acontecendo, estávamos perpelxos com o que o governo foi capaz de fazer para aprovar o roubo da nossa aposentadoria.
Para não deixar esquecer! Ótima matéria!