As mulheres também fazem parte da estrutura social, mas não são oficializadas quanto deveriam pelo jornalismo

Nesta semana, início do dia 24 de setembro até 30 de setembro, o portal ARede publicou cinco matérias em que mulheres foram agredidas por seus companheiros e ex-maridos. Cinco pode parecer um número pequeno, mas não é! Tendo em vista que a cada dois segundos uma mulher sofre violência verbal ou física de acordo com o site Relógios da Violência http://www.relogiosdaviolencia.com.br/#. O site foi lançado pelo Instituto Maria da Penha que calcula diariamente o número de mulheres agredidas no Brasil.

Sobre esse percentual, no jornalismo local a mulher ainda é pouco retratada no espaço das publicações, e é ocultada como não sendo uma fonte relevante para os textos jornalísticos. Das 115 matérias publicadas no site ARede essa semana, mulheres apareceram 26 vezes como opção de fonte, sendo 18 como fonte oficial e 8 como fonte apenas para contextualizar a matéria. Elas não compõem nem metade do percentual de fontes que aparecem nas matérias diariamente. Levando em conta as matérias que envolvem a polícia e o corpo de bombeiros apenas uma fonte mulher bombeira apareceu, das 33 matérias envolvendo essas duas instâncias.

Esse descompasso ainda é alarmante quando vemos a nota/evento publicada no dia 25 sobre o Congresso de Direito Público com o subtítulo “30 anos de Constituição para quem?” que debate sobre a Reforma Política, Empresas Estatais e Desenvolvimento Econômico e também o Constitucionalismo Feminista, mas destaca apenas um professor que vai palestrar no local, levando em conta que outros palestrantes estarão presentes, entre eles mulheres. Em outra nota, do mesmo dia (25), esta sobre o encontro com representantes da saúde do Pronto Socorro de Ponta Grossa que se reuniram na Justiça Federal da cidade para compreender melhor a obtenção de recursos provenientes de processos ou multas judiciais para destinação na área de saúde. Traz a fala de apenas um juiz que estava presente, a única escolha dos jornalistas perante 10 mulheres que estavam presentes no encontro e que poderiam ser fontes relevantes também.

O caso mais ostensivo para a escolha das fontes, mas que também levanta questões a respeito das escolhas das pautas perante os jornalistas é sobre a matéria publicada também no dia 25  que diz: “Nas últimas 24h PM cumpre quatro mandados de prisão em Ponta Grossa”. É uma matéria em formato notícia que dá relevância para essas quatro prisões. Sem querer questionar a efetividade da Polícia Militar, a Patrulha Maria da Penha já prendeu este ano 27 homens por agressão e descumprimento de leis protetivas para as mulheres e nenhuma matéria foi publicada.

Pensando nas cinco agressões que ocorreram essa semana e no pouco uso de mulheres como fontes, ou como fontes oficiais (de órgãos de governo) o jornalismo ainda precisa refletir sobre como retrata as mulheres em suas matérias. Elas não estão presentes na sociedade apenas como vítimas oprimidas, embora, infelizmente o número de agressões vem subindo, me pergunto: Por que não retratamos o número de homens presos por agressão contra mulheres? Por que ocultamos eles de seus atos? Quando é para falar de seus atos contra a sociedade, suas degradantes atitudes contra as mulheres não contabilizamos eles, mas os pôr em maior relevância como as principais fontes, ou primeiras escolhas nas matérias o espaço é garantido e melhor disponibilizado pelo jornalismo.

Por Rafael Santos

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