Auxílio Emergencial: Histórias de quem busca sobrevivência com tão pouco

“Estou morando de favor, desempregada e meu marido não consegue um emprego na área dele”. Este é o relato da jovem Tatiane Maciel (23), e a realidade de muitos outros ponta-grossenses que estão desempregados, receberam o auxílio emergencial do Governo Federal em 2020 e perderam o benefício em 2021. No ano passado, cerca de 68 milhões de brasileiros receberam o auxílio de R$600, o que representa quase um terço da população. A Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020 trata das medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus (covid-19) e a partir dela se instituiu o pagamento do auxílio. Criado para servir como apoio na renda dos brasileiros que conseguiram o benefício. 

Em 2021, o número de beneficiários será de 45,6 milhões, ou seja, 28% das pessoas cadastradas anteriormente não terão acesso ao novo auxílio emergencial. E, ainda, neste ano, o valor será menor, o cidadão receberá entre R$150 e R$375.  Os pagamentos foram divididos em quatro parcelas que começaram a ser depositadas em março e vão até junho de 2021. O Governo Federal não anunciou nenhuma atualização sobre novas parcelas.

 

 

No início de 2020, Tatiane morava sozinha em Ponta Grossa e conseguia sustentar a si mesma. “Atualmente, moro de favor na casa de um tio, junto com meu noivo Alisson, em Carambeí”, conta a jovem. O noivo, Alisson (22), faz bico de pedreiro e Tatiane, desempregada, cuida da casa. O tio, Francisco Machado, já passou dos 40 anos e também ficou desempregado em 2020. No momento, ele trabalha como jardineiro por conta própria, e assim como a sobrinha não receberá o novo auxílio emergencial. 

No começo da pandemia, Tatiane trabalhava em um mercado, porém foi despedida. Depois de perder sua única renda, foi morar com Alisson, alugaram um bar na Nova Rússia e começaram a trabalhar. “A clientela caiu por conta do Covid-19, por isso não tínhamos dinheiro pra pagar aluguel e outras contas. Por fim, pediram a casa que morávamos no bairro Gralha Azul, e decidimos vir morar em Carambeí na casa do meu tio”, conta Tatiane. 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49,4% da população brasileira economicamente ativa terminou o ano de 2020 desempregada. No Paraná, 9,4% encerrou o ano desocupada, ou seja, pessoas que estão desempregadas, mas em busca de um emprego. É a maior taxa de desocupação no estado desde 2012, ano que o IBGE começou a acompanhar os números. 

Ainda, segundo os dados, os principais afetados pela falta de emprego foram os jovens. Tatiane relata que ela e o marido têm dificuldade de encontrar emprego pela falta de experiências pedida em processos seletivos. “Chegando aqui meu noivo não conseguia serviço por conta das experiências dele que são de garçom e motorista. Agora, ele está trabalhando como servente de pedreiro e eu estou desempregada. Não consigo serviço de jeito nenhum porque não tenho experiência” finaliza a jovem.

Índice de desemprego é 19% maior entre mulheres

As mulheres foram as mais atingidas pela crise econômica e pandêmica. Dados do IBGE divulgados em janeiro deste ano, indicam que apenas 40% das mulheres, com 14 anos ou mais, estão trabalhando. Enquanto que o número de homens é de 59%. Além disso, do total da população brasileira fora do mercado de trabalho, 64% são mulheres. Letícia Carla Rodrigues de Almeida (24) tem três crianças pequenas e mora com o marido e os três filhos no bairro Itapoá, em Ponta Grossa. No mês de março de 2020, ela trabalhava em um mercado no bairro Santa Paula (o mesmo que Tatiane Maciel), porém, Letícia engravidou e sua gravidez era de risco. “Tive que me afastar para me resguardar durante a pandemia de Covid-19”, relata Letícia Rodrigues. 

Em 2021, a jovem voltou a trabalhar, dessa vez em uma feira de verduras, também no bairro Santa Paula, três vezes por semana, como autônoma, ou seja, sem registro na carteira. Acontece que Letícia se infectou com o coronavírus. “Com medo, voltei ao trabalho. Mesmo me cuidando às vezes preciso atender no caixa da feira e acabei pegando o Covid-19” lamenta. Isolada dos filhos, a jovem mãe conta como tem sido a vida desde março de 2020, sua rotina e expectativas para o futuro. Confira o relato de Letícia em áudio:

 

 

Mesmo com o valor atual do auxílio emergencial, de R$375, Letícia não poderia suprir os gastos da casa, nem mesmo as despesas do filho mais novo, que incluem pacotes de fralda e latas de leite. 

 

 

Auxílio Emergencial é insuficiente para cobrir gastos domésticos 

Marli Terezinha Kozak (49) mora há quase 10 anos no Jardim Los Angeles com o filho João Pedro (14). Terezinha tem mais dois filhos, Aline e Oelinton, já adultos, porém não recebe pensão do pai de seu filho mais novo. Antes do auxílio emergencial, a mãe se sustentava com trabalhos de diarista e com o Bolsa Família. Em 2020, Marli Terezinha recebia R$1.200,00 de auxílio emergencial e mais a cesta básica oferecida pela Prefeitura de Ponta Grossa, por ter um filho matriculado no sistema Municipal de Ensino. “Hoje eu estou desempregada e recebo auxílio emergencial de R$375,00 por ser mãe solteira e só cuido da casa. O auxílio ajuda a comprar o básico, mas não tudo que é necessário para uma casa”, conta Marli Terezinha.

O auxílio emergencial cobre metade do valor total da cesta básica em Ponta Grossa. O relatório mensal realizado pelo Nerepp-UEPG, indica que em abril a cesta básica custa R$671,84 na cidade. Para uma família que recebe um salário mínimo, ou seja R$1.045,00 mensais, esse valor representa 64% da renda. Para aqueles que sobrevivem com o auxílio emergencial de R$375, é impossível comprar todos os itens que fazem parte da cesta básica. Desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020, o valor da cesta em Ponta Grossa teve um aumento de $145. Outros setores da vida doméstica também aumentaram o valor nos últimos meses. O preço do gás de cozinha já subiu mais de 40% só em 2021. O valor médio em Ponta Grossa é de R$84,08. A partir de junho, a conta de luz terá um aumento de 9,67%. Já a conta de água aumentou 5,7% em abril deste ano. 

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