A feminização da pobreza e as desigualdades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho foram tema do Seminário Feminização da Desigualdade, que integra a programação do coletivo Feminismos em Luta. O evento foi realizado na noite de quarta-feira (12), na Câmara Municipal, por iniciativa de Ana Paula de Melo.
A feminização da pobreza se refere ao aumento do número de mulheres em situação de pobreza e o processo das mulheres sozinhas terem que se responsabilizar pelo seu sustento e o dos filhos, quando não tem mais o companheiro na mesma casa. Nessa realidade, além de precisarem garantir a própria renda, elas ainda assumem a maior parte dos trabalhos de cuidado, como a criação dos filhos e as tarefas domésticas.
Dados do Censo do IBGE indicam que, em 2010, os homens eram responsáveis pelo sustento de 61,3% dos lares brasileiros, enquanto as mulheres representavam 38,7%. No entanto, em 2022, esse cenário mudou significativamente: o percentual de mulheres à frente dos lares subiu para 49,1%. Apesar disso, elas ainda enfrentam desigualdades no mercado de trabalho e continuam sendo as principais encarregadas pelos cuidados familiares.
A professora universitária, consultora empresarial e advogada especialista em justiça restaurativa, Lana Furtado, destaca que, historicamente, a mulher sempre foi vista como uma segunda opção no mercado de trabalho. “Quando fomos chamadas para trabalhar durante a Segunda Guerra Mundial, foi porque os homens estavam indisponíveis, não porque nos consideravam competentes“.
Sobre o cenário de Ponta Grossa, Lana acredita que a cidade seja muito conservadora e que isso é algo que deve ser desconstruído, então apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda existe uma grande desigualdade salarial entre homens e mulheres em Ponta Grossa.
Segundo pesquisa do IBGE, anualmente as mulheres dedicam em média 10, 4 horas por semana a mais aos afazeres domésticos do que os homens. A segunda palestrante, Hanna Krüger, professora de Direito na Faculdade Anhanguera, trouxe esse dado para explicar a feminização da pobreza no Brasil, afirmando que a sobrecarga de afazeres domésticos limita as oportunidades de qualificação e crescimento profissional das mulheres.
No evento, também se discutiu a precarização do trabalho feminino, com as mulheres em uma situação de emprego que é instável, onde o trabalhador é responsável pelos riscos do emprego, e não o empregador. Para ilustrar isso, a advogada trouxe a questão do trabalho em plataformas digitais, como o Uber e o 99, que muitas vezes alegam que os parceiros não têm vínculo empregatício com a plataforma, logo não têm direitos trabalhistas.
Texto por Pietra Gasparini e Amanda Grzebielucka.
Fotos por Pietra Gasparini.